domingo, 29 de janeiro de 2012

Educação de Pais e Filhos

Tenho dito que nossas crianças acreditam que pela autoridade de pais teríamos também a autoridade de “sábios”. E nós nos valemos disso. Dificilmente conseguimos descer do pedestal de autoridade que elas nos proporcionam. Contudo, ele se torna tanto mais alto quanto mais certezas colocamos em nossas respostas. E quando os filhos, no seu saber infantil, questionam nossas certezas, geralmente os corrigimos dizendo: Isto não é pergunta pra criança! Ou: Ainda não chegou o seu momento de saber disso! Ou até mesmo: Eu sou seu pai! Como se disséssemos: quem sabe, aqui, sou eu, você não tem que duvidar; só obedecer
Entretanto, não percebemos que quanto mais alto o pedestal de autoridade paterna, maior a distância entre pais e filhos. Daí, como eles podem constatar o nosso ensinamento? A quem eles podem recorrer? Restam-lhes os colegas da rua, que lá estão com as mesmas dúvidas, porque certamente já sofreram o mesmo distanciamento sob o pedestal de seus pais. Então, a fome de saber os coloca à mercê dos mais velhos, mais experientes. E agora?! Que fazer? A quem reclamar a educação dos nossos filhos? À Escola? E quanto à educação dos pais?
O papel da Escola não é a educação prática da vida. A Escola nos prepara para a vida teórica: os conceitos, os nomes corretos das coisas, a classificação dos seres, o conhecimento da Natureza, a explicação dos fenômenos do mundo, os modos corretos dos usos da língua que falamos, os modos de quantificar coisas, aumentar, distribuir etc. Em suma, prepara-nos para atividades técnicas, profissionais. No entanto, as pessoas vivem independentemente desse saber teórico. ...Por vezes até, possuir tal saber não significa viver melhor do que quem possui apenas o saber prático, o saber da boa relação com os outros, da responsabilidade com o mundo.
Assim, talvez seja um tributo muito alto atribuir aos pais a responsabilidade pela má educação dos filhos. Mas, considerando o princípio segundo o qual conhecer é poder, o pai, que de antemão conhece mais que o filho, sobre este ele tem poder de ensino. Ora, quem tem o poder tem também a responsabilidade sobre a educação. Em outras palavras: quem detém mais saber detém também a responsabilidade do educar.
Entretanto, talvez ainda se possa alegar que os pais, embora detenham mais saber que os filhos, infelizmente, nem sempre têm a consciência de tamanha responsabilidade: educar bem os filhos, ou seja, prepará-los teórica e praticamente para o mundo, o qual carece ser melhorado para as futuras gerações. Mas, em que ou como ele vai melhorar se as pessoas não se tornarem melhores? Ocorre que às vezes os instruímos nas melhores escolas, com o máximo de teoria, mas falhamos na prática. Todavia, às vezes os instruímos com o melhor de nossa prática, porém desprovida de uma teoria que a justifique. Ora, geralmente, o melhor de nossa prática diverge da prática comum do mundo. Por isso carecemos de uma fundamentação teórica.
Então, estamos sós: só nós pais e nossos filhos. A quem podemos reclamar tal educação integral? Como integralizar a educação prática da família com a educação teórica da Escola, se algumas famílias sequer têm noção da responsabilidade dos pais na educação? Afinal, se a educação dos filhos está ruim, deve-se à má educação dos pais. Ora, reclamamos aos pais a falta de educação dos filhos, mas a quem reclamar a falta de educação dos pais, como cidadãos? Eis uma questão política disfarçada de ética. 

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