terça-feira, 30 de novembro de 2010

Contagem Regressiva

Último dia do penúltimo mês do último ano da primeira década do primeiro século do terceiro milênio. Quem diria?! Haja dias, anos, "ênios", "timos", "eiros" e eiras a cada velha expectativa de nova perspectiva de vida e paz!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Campanha Contra o Cartel dos Combustíveis

Hoje recebi uma mensagem que me chamou atenção, sobre uma pretensa campanha contra o abuso no preço de combustíveis: durante "outubro, novembro e dezembro não se abastecer em postos da distribuidora Petrobras", uma vez que seus lucros exorbitantes e os impostos do governo estariam causando abusos de preço da gasolina, a R$ 2,67.

A ideia até parece interessante, porém assenta-se sobre 2 falhas graves:

1ª) A culpa desses preços abusivos no combustível (R$ 2,67) não pode ser atribuída a "a GANÂNCIA do Governo com seus impostos e a busca desenfreada dos lucros exorbitantes da nossa querida e estimada estatal brasileira". Simplesmente porque em João Pessoa, a gasolina custa apenas de R$ 2,29 a R$ 2,45 (aditivada, paga no cartão de crédito). E o governo é o mesmo, os impostos são os mesmos e a Petrobras é a mesma. E na Paraíba nem existe petróleo nem refinaria da Petrobras. Coisa que existe, por exemplo, no Rio Grande do Norte, em Pernambuco e na Bahia, onde o combustível chega até a R$ 2,80.

Ocorre que lá em João Pessoa existe um Ministério Público ATUANTE, que não permite o cartel nem os abusos; como fez em plena véspera de feriadão, autuando alguns postos que descabidamente exageraram no preço. Pela REAÇÃO do MP e Procon, no dia seguinte os preços voltaram ao normal. E nunca mais os cartelistas ousaram repetir o intento.

2ª falha: por que agir por exclusão apenas dos postos BR? Por que não fazer o contrário? Escolhem-se 2 bandeiras para abastecer e se excluem as demais? Duas bandeiras, para garantir opção, enquanto todas as outras sofrem o prejuízo, sem saber quando serão sorteadas. Nesses termos, segue-se um rodízio a cada semana, enquanto as demais permanecem aguardando a sorte ou então reduzem seus preços.  
Pois, foi assim que o MP e o Procon em João Pessoa comandaram uma campanha de SUCESSO. Por isso, atualmente lá não se encontra mais tal abuso.

Devido a essas duas falhas, a campanha proposta não merece crédito, por não ser confiável. Pois, acusar o governo e a Petrobras de responsabilidade nesse abuso de preço de combustíveis, não parece ser por ignorância de que existem lugares no Brasil, sob os mesmos impostos e que sequer extraem ou refinam petróleo, onde o preço nem se compara a tal abuso. Se fosse por ignorância, seria perdoável. Porém, parece ser por má fé. 
Tanto que propõe uma campanha parecida com a que realmente funcionou, mas a propõe, injustamente, às avessas.
Desconsideram que fazendo assim, não atingirão o governo, tampouco a Petrobras, que vende a todas as distribuidoras. Prejudicarão apenas aos donos de postos, que compram pelo mesmo preço que os demais.
O que ganharia com isso quem a propõe? Quem estaria por trás de tal campanha?
Sinceramente, não sei. Mas está muito parecido com todas aquelas mensagens terroristas anti-Lula e anti-Dilma, durante as eleições

Dá para acreditar que o terrorismo de direita limitou-se à campanha eleitoral?

domingo, 28 de novembro de 2010

Platão e a Escultura

O Carregador d'água. Esculpido em João Pessoa/PB (58052-197)
Ao ver essa escultura, eu não resisti. Eu tinha que fotografá-la. Ela me remete ao tempo de criança, pobre, em bairro carente, em Natal, onde crescemos precisando carregar água para abastecer em casa. Felizmente o bairro, embora carente das condições sociais, tinha rico manancial aquífero, banhado pelo rio Potengi. Por isso havia diversas cacimbas naturais, verdadeiros veios ou olhos-d'água, brotando constantemente da terra. Daí porque também eram chamadas de olheiros, ou ainda "oieiros".
Ao ver tal escultura, senti que precisava mostrar aos meus irmãos, tamanha representação da luta de casa em nossa infância. Então, passeando com o meu Platão, resolvi fotografá-lo junto à escultura, para mostrar que ela está em tamanho humano normal. Ele conferiu e assinou embaixo o livro de visitas caninas. Ele gostou. Não fez oferenda como as que ele deixa no pátio da igreja. Mas, gostou!

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Voto obrigatório na democracia?

Hoje recebi uma "pergunta que não quer calar: por que no Brasil o voto é obrigatório, se estamos numa democracia? Pois, nos Estados Unidos ninguém é obrigado a votar!"

Realmente há uma falha nesta tal democracia brasileira: o voto deixa de ser um direito e se torna um dever, sem qualquer contrapartida.

Entretanto, vale observar que nos Estados Unidos e em outras democracias ditas de primeiro mundo, o voto não é obrigatório, mas a sociedade é educada. E mais que isso: ela é principalmente provida das condições básicas para viver, não apenas para sobreviver. Então, as pessoas usam o voto apenas como instrumento político para viver melhor, sob a garantia de outros direitos. Por isso, quem já está bem e não vê perspectiva de mudança, pode abrir mão do seu direito de votar.

Isso, porém, não acontece no Brasil. Além da grande maioria da nossa sociedade ainda precisar do básico para sobreviver, como bolsa-família, por exemplo, evidentemente por isso, ela não é educada para escolher e decidir o seu voto por interesses sociais e não apenas por interesses pessoais.
Ora, se as pessoas sendo obrigadas a votar vendem seu voto por qualquer emprego, cesta básica, saco de cimento, óculos, consulta médica ou dentadura, imagine se elas não fossem obrigadas, apesar de toda carência econômica e social! 
Pois, sem a obrigatoriedade, certamente seria mais fácil o comprador descobrir quem lhe vendeu o voto e se absteve ou até não votou nele. Pois, seria fácil contar os votos esperados.

E o pior: se na nossa sociedade brasileira ainda há milhares de pessoas que carecem de ajuda do governo para sobreviver, é certamente porque a tal sociedade brasileira ainda não é educada para eleger governantes e parlamentares que cuidem melhor da Educação da nossa sociedade local, estadual e nacional. Pois, como tirar da miséria esse povo, sem a devida educação para a produção social?

O bolsa-família, infelizmente, apenas ajudou na sobrevivência de alguns, pelo que movimentou a economia, propiciando a outros o consumo.
Porque, pobre e mal educado se pega em dinheiro é pra gastar. Quando pensa em trabalhar é visando apenas poder consumir. Jamais pensa em produzir, para ser socialmente útil. Mas de consumidores é o que precisa o capitalismo. Contraditoriamente, porém, os capitalistas negam as condições para que todos possam consumir, até quando a ajuda ao consumo é dada pelo governo. Não percebem que o dinheiro público bem distribuído retorna em benefício para eles também.
Pergunte a qualquer pessoa o que ela faria se ganhasse alguns milhões em prêmio. A resposta mais comum é: COMPRAR... mas isto gera inflação e inveja. Ou seja, ninguém pensa em CONSTRUIR, o que gera produção, emprego, desenvolvimento, utilidade, bem-estar etc.

A mentalidade do consumo, portanto, precisa ser substituída pela da produção. 
Mas isso só pode ocorrer através da Educação. 
Se mudarmos a mentalidade na nossa Educação, então estaremos preparando gente para tirar o povo da miséria econômica. E assim tiraremos da miséria política a nossa sociedade, pois não separo povo e sociedade.
Livre da miséria, então nossa sociedade deverá lutar pelo voto como um direito democrático, e não como uma obrigação, pela qual quem pode pagar não se obriga.

sábado, 13 de novembro de 2010

E Assim Falou Zsalesastuto


Pedra de Seu Chicão no Rio Potengi, Barcelona/RN
Tanto em sonho como na realidade, o que é vivido intensamente faz tremer o corpo, altera o compasso do coração, colore a paisagem, desperta a melodias, aguça o olfato e aquece a pele. Isto é paixão. É o que diz ao nosso corpo que não estamos sós, pois há um Outro que nos afeta. Só precisamos aprender a cuidar desse afeto, como amantes: como aquele que vive afetado pelo viver do apaixonante; que se interessa pelo interesse do interessante; que se importa com o que é importante para o amor do outro. Estes são os amantes. E o amor não é mais do que o cuidado que se tem um com o outro. É por ele que se sonha, que se deseja e se entrega sem pudor, delira-se e vai-se a êxtase. E este é o alimento de toda paixão. 

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O Preço da Música na Mídia

Hoje eu li uma nota na coluna televisão.uol e me lembrei dos versos do Belchior: "Já faz tempo eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida. Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais..." (Como Nossos Pais). Embora o poeta esteja falando do tempo em que a juventude foi reprimida, vale observar que naquele tempo, "quando havia galos, noites e quintais", a Música brasileira e a mídia ainda se encontravam a gosto, não a preço. Quero dizer: a mídia apresentava ao público, com certo gosto, a produção musical de gosto certo, mesmo que fosse às vezes para literalmente "quebrar o disco à cara do artista", como Flávio Cavalcanti fez com o lendário Raul Seixas.
Naquela época certamente os programas de rádio e tv faziam questão de convidar bons artistas, porque tal aparição rendia-lhes alto índice de audiência, tanto à mídia quanto ao artista.
Assim, a mídia alimentou a arte com a fama; pela qual cresceu a quantidade de artistas. E a arte alimentou a mídia com audiência, pela qual cresceu o poder da mídia.
Infelizmente, essa disparidade de crescimento não implicou em melhor qualidade de nenhuma das atividades, porque o alimento continua o mesmo, guiando a arte pelo supérfluo e a mídia pelo dinheiro.
Aquilo que desconfiávamos há tempos agora se vislumbra na nota do Flávio Ricco:
"Jabá oficial
Está cada vez mais complicada a situação da música em várias emissoras de rádio e TV. Se pagar, toca. Caso contrário, esquece. É assim que funciona e até com alguma organização.
Um dos programas mais conhecidos, gerado de São Paulo, cobra R$ 45 mil para duas apresentações. Este valor é dividido ao meio, porque a televisão também leva a parte dela. Detalhe: com nota fiscal.
Ninguém admite ou fala escancaradamente sobre o assunto, mas como se vê não tem sonegação. Legal, mas imoral.
Caso diferente
Outro programa semanal, na mesma televisão, cobra bem menos. Apenas R$ 20 mil, também por duas músicas, porém, neste caso, a emissora não tem participação. Tudo feito por debaixo do pano.
O dinheiro é dividido em sua maior parte entre o diretor e o apresentador, além da comissão de praxe ao intermediário.
Prática antiga
Mas isso não chega a ser nenhuma novidade. No rádio, principalmente em emissoras dos grandes centros, esta é uma prática de muito tempo. Os preços em São Paulo variam de R$ 10 mil a R$ 30 mil, conforme a colocação no Ibope. Também com nota fiscal."
Fonte: http://televisao.uol.com.br/colunas/flavio-ricco/2010/11/10/globo-nao-tera-novamente-ivete-sangalo-no-seu-fim-de-ano.jhtm#jaba
Infelizmente, consiste apenas numa nota de opinião, uma vez que o autor não identifica os agentes envolvidos: quem pagou quanto para se apresentar em quais programas de tv e de rádio e quem cobrou por tal serviço. Por falta dessa informação, portanto, o dito "jornalista" ou colunista, infelizmente, não permite ainda confirmar a nossa desconfiança antiga de que a música no Brasil atende não só às exigências do mercado fonográfico, mas também paga um preço à mídia, regida pela velha máxima do "time is money", cuja fórmula é: tempo escasso + grande demanda = preço alto. 
E o pior: em última instância, quem paga a conta ainda é a cultura brasileira, debitada por esses ditos "fazedores de opinião". Afinal, nas mãos de quem está nossa cultura musical e midiática? Que identidade cultural podemos formar da nossa sociedade, com tal incentivo à produção e tal imposição ao consumo?
Vale, portanto, cantar com o poeta de Grossos/RN, Genildo Costa, os versos de Gonzaga de Areia:
"Por quanto tempo a gente vai ficar aqui, parado? Por quanto tempo?!
Por quanto tempo a gente vai se encontrar nas ruas, nos bares...?
Milhões de seres que o palco desconhece
Milhares de criaturas pelas ruas do País, perdidas no anonimato
Acreditar, cristalizar o sonho e a fantasia
Reinventar o som e tudo o mais que contagia
Pelo prazer de cantar coisas da alma da gente
O belo, o inconsequente
Sob esse céu cor de anil
A vida não é só tua voz gravada numa lâmina de vinil" (Anonimato)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

sábado, 6 de novembro de 2010

Passeio no bosque

Jardim Botânico Mata do Buraquinho de Xuxa, em João Pessoa, PB, Nordeste do Brasil

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Ensinar com paixão

O filósofo Santo Agostinho diz que ao falarmos estamos sempre ensinando algo. Que é por isso que falamos: para ensinar. Mesmo quando perguntamos, estamos ensinando ao outro sobre o nosso desejo de saber. Comparando, então, o tanto que falamos com o tanto que sabemos, talvez estejamos ensinando muito mais sobre a nossa ignorância do que sobre algum saber esperado pelo nosso ouvinte. O problema é: como o outro, o ouvinte, nosso interlocutor, pode constatar que ouviu mais ignorância do que saber? 
Talvez esta reflexão nos remeta imediatamente à situação dos jovens, aprendendo sobre a vida prática, nas ruas, com outros jovens mais experientes. Pois parece ser sobre as coisas práticas da vida que carecemos de professor. Certamente um jovem aprendiz da vida prática não tem como conferir se o que ouve dos outros é saber, de fato, ou é mera ignorância.
Fome de saber
Mas imaginemos uma situação um pouco anterior, porém mais próxima de nós: nossas crianças, no despertar da vida, perguntando-nos sobre tais assuntos, ensinando-nos sobre o seu querer saber. Como nós lhes respondemos? O que nós lhes ensinamos: o nosso saber ou a nossa ignorância? Ensinamo-lhes sobre a energia de viver ou sobre os nossos medos? Sobre as perspectivas de futuro ou sobre as nossas frustrações? Sobre a responsabilidade com o mundo ou sobre as nossas ambições pessoais?
Ora, nossas crianças não têm como conferir. Ao nos perguntar, elas já trazem um pedestal sobre o qual subimos para lhes responder na posição de pais ou de mestres. Elas acreditam que por tal autoridade teríamos também a autoridade de “sábios”. E nós nos valemos disso. Dificilmente conseguimos descer do pedestal. Ele se torna tanto mais alto quanto mais lhes damos certezas. E quando elas, no seu saber infantil, questionam nossas certezas, geralmente as corrigimos dizendo: Isto não é pergunta pra criança! Ou Ainda não chegou o seu momento de saber disso! Ou até mesmo: Eu sou seu pai! Ou Eu sou o professor. Como se dissesse quem sabe, aqui, sou eu, você não tem que duvidar; só obedecer.
Entretanto, não percebemos que quanto mais alto o pedestal de autoridade, maior a distância entre o mestre e o aprendiz. Daí, como elas podem constatar o nosso ensinamento? A quem elas podem recorrer? Restam os colegas da rua, que lá estão com as mesmas dúvidas, porque certamente já sofreram o mesmo distanciamento do pedestal de seus pais e mestres. Então, a fome de saber os coloca à mercê dos mais velhos, mais experientes. E agora?! Que fazer? A quem reclamar a educação das nossas crianças? À Escola?
Saber é poder
É papel da Escola a educação prática da vida? A Escola nos prepara para a vida teórica: os conceitos, os nomes das coisas, a classificação dos seres, o conhecimento da Natureza, a explicação dos fenômenos do mundo, os modos corretos dos usos da língua que falamos, os modos de quantificar coisas, aumentar, distribuir etc. No entanto, as pessoas vivem independentemente desse saber teórico. Por vezes até, possuir tal saber não significa viver melhor do que quem possui apenas o saber prático, da boa relação com os outros, da responsabilidade com o mundo.
Talvez seja um tributo muito alto atribuir aos pais a má educação dos filhos. Mas, considerando o princípio segundo o qual conhecer é poder, o pai, que de antemão sabe mais que o filho, tem poder de ensino sobre este. Ora, quem tem o poder tem também a responsabilidade sobre a educação. Em outras palavras: quem detém mais saber detém também a responsabilidade do educar. Entretanto, talvez se possa alegar que os pais, embora detenham mais saber que os filhos, infelizmente, nem sempre têm a consciência de tamanha responsabilidade: educar bem os filhos, isto é, educa-los para o mundo, visando sempre melhora-lo para as futuras gerações. 
Saber e responsabilidade
Como educar para a cidadania? Como tornar cidadãos os nossos jovens?  Eis o apelo à educação. Para tanto, faz-se mister saber, com Aristóteles, que “a excelência moral relaciona-se com prazeres e dores; e é por causa do prazer que praticamos más ações e por causa da dor que nos abstemos de ações nobres”. Por isso, o discípulo Aristóteles concorda com o mestre Platão, que já nos advertia acerca da necessidade de se educar desde a juventude, em vista do deleite com coisas com as quais devemos nos deleitar, e do sofrimento naquilo com o que devemos sofrer. 
Permitam que seus filhos aprendam a ter compaixão

Ensinem os seus filhos  (...) com paixão.
(Compaixão; Nenhum de Nós)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

ACERCA DA ADOLESCÊNCIA: Das Minhas Meninas


Admirar as minhas meninas faz-me lembrar os versos da música de Chico Buarque: "Olha as minhas meninas, aonde é que elas vão?...". E ouvi-la faz-me pensar no estado adolescente das minhas meninas. ...Interessante! Parece que nossas meninas nunca deixam de ser meninas, para nós. Intrigante, porém: parece que na adolescência elas não querem mais ser meninas e descobrem antes de nós que também não serão sempre nossas. Então elas começam a escapar ao nosso cerco. Mas isto nós só percebemos quando elas “saem sozinhas [fora] das notas” de qualquer canção. Somente assim, talvez, percebemos que elas só “são minhas, tão minhas na minha ilusão”, no poema que faço, na imagem que traço e na educação que lhes dou. Mas, seria a nossa educação uma cerca? 


Talvez, já que educar requer o estabelecimento de limites. E o medo de perda nos faz cercar de cuidados as nossas crianças. Contudo, na adolescência, elas não querem mais tantos cuidados, porque não querem mais ser crianças. É que a adolescência parece constituir-se num estágio de transição. Um estado de puro movimento: no qual o adolescente já não é mais criança, contudo, ainda não é adulto. Indefinição que gera uma dificuldade aos próprios adultos, como a indeterminação de direitos e deveres do adolescente frente aos pais, que dizem: “você não tem mais idade para usar essa roupa”; enquanto, confusamente, também afirmam: “você já tem idade bastante para escolher sua própria roupa!” Talvez, por isso, o grande drama do adolescente seja a sua própria identidade, a busca do encontro consigo mesmo. É um momento comparável ao do casulo: que ainda não é borboleta nem é mais lagarta; porém espera não apenas pela substituição da velha roupagem para expor uma nova, mas fundamentalmente pela manifestação de um novo ser.
Parece que na adolescência o ser do indivíduo se expande tal qual a borboleta que já não cabe no seu próprio casulo, tornando-se maior que o próprio corpo. Eis a exigência de liberdade. O ser adolescente se sente no cativeiro do próprio corpo cujo crescimento não acompanhou a sua expansão fenomenológica, intelectual, psicológica. O seu mundo já não cabe em si. Por isso nada identifica melhor o adolescente do que a rebeldia, que tem como pressuposto a busca de liberdade: ...a ânsia de se livrar da cerca da nossa educação.
Eis, pois, duas características básicas da adolescência: a ideia de liberdade e o comportamento ansioso.  O adolescente tem pressa de liberdade. Porque ele se sente preso pelas regras familiares, pelas normas sociais, pela escassez financeira imposta pelo consumismo capitalista. Nesse sistema tende-se a confundir liberdade com realização das vontades, satisfação dos desejos, das pseudonecessidades criadas pelo sistema. Então, os libertários tornam-se avessos a proibições, exceto àquela que proíbe proibir. Eles acreditam que ser livre é cada um satisfazer seus próprios desejos sem ter que dar satisfações a ninguém. Algo como na Sociedade Alternativa, de Raul Seixas, cujo princípio é: “faça o que tu queres, pois é tudo da lei.” Entretanto, eles não percebem que a realização do desejo do outro pode colidir com a do seu próprio desejo. E, então, qual deverá ser realizado? 
Todavia, ante a dificuldade de responder a tal questão, teórica e praticamente, e uma vez incorporadas as tantas pressões cotidianas em casa, na escola, nas escolhas de amizade, de namoro, de profissão etc. alguns jovens chegam a julgar que a liberdade é uma ilusão, visto que se choca com as normas, exigindo sempre a responsabilidade dos seus atos. Nesse sentido, se as normas são necessárias para o convívio social, então inexiste liberdade, pois, segundo esse entendimento, onde há necessidade que gere uma obrigação ou proibição, não há liberdade. E se não há liberdade, para que a pressa? Eis porque, geralmente, a ânsia transforma-se em comodismo; e a rebeldia em decepção. 

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Das Dores de Maria

Chega a morte
Vai-se um bem:
O ânimo de um ente querido
E em ritual
Os animais humanos
Despedem-se de um corpo rijo, sem ânimo
E os ânimos em desânimo dizem amém!
Amém! Assim seja
O fim das dores de Maria
Que as suportou sem manha
Mãe nossa de cada dia!
Dá-nos hoje o consolo
Em alegria sã
Pelo reconhecimento do seu espírito sereno
Fortaleza de seu corpo frágil
Áurea que resistiu ao fardo, ao tempo
Sob uma maldição de batismo
Sem da morte maldizer
 Mãe nossa de cada dia!
Dá-nos hoje a lição de admirar
Humilde sabedoria
Que só em farto coração
Suportaria o caminhar
Marcando passo em agonia
Pressentindo a morte
No compasso
De um enfartado coração
E à dor aberta da ignorância
Que fique a auréola ainda
Da divina instância
Que faz da alma essência:
O amor!
Porque
Aos mortos vão as flores
E aos vivos, a lição da lide
Antes que a morte chegue
E em desânimo regue as dores
De quem à sorte ocupa a vida
Preocupado com a morte
Então
Anima-nos, Amor!
Animai-vos vós animais
Que se amam:
Pai, filhos e irmãos!
Pois, os corpos vão
E os amores ficam
Em ânimo são
Dizendo: AMEM!
Amém!