sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

ÚLTIMO DIA

Enfim, eis-nos no último dia do último ano da primeira década do primeiro século do terceiro milênio! Eis que esse tempo finda! Quanto tempo ainda nos resta? Felizmente, há muito a comemorar! E quanta expectativa! Vale superarmo-nos mais uma vez, a cada dia!
Quanto aprendemos com a nossa experiência? E com a dos outros, para não precisarmos sofrer o que eles sofreram?
PARABÉNS ao meu irmão Wilson Coelho e a todos aqueles a quem quase faltou dia para nascer!
BEIJOS DE FELIZ IDADE

sábado, 18 de dezembro de 2010

Papa

C'est pour toi que j'écris aujourd'hui
C'est toi que je veux presenter
Mon heros, mon inspiration, ma fierté
Mon maître, ma forteresse, c'est lui

Il est sage, il est fort, il est bon
Mon papa, qui, son amour m'a donné
Qui, les choses de la vie, m'a expliqué,
Qui, à ma croissance, a offert l'emotion

Mon papa à qui je suis reconnaissante
De m'avoir appris, enfant
Des choses que jamais je n'oublierai

Quand il me donne un sourire
Il me fait arreter de souffrir
et me transmet sa tranquillité.

(Ahmina Raiara. Paris, 18/12/2010)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Dia de Luz


Hoje é 13 de dezembro: dia de sorte para quem ainda não perdeu a visão. Hoje é feriado em Mossoró, onde se comemora o dia de Santa Luzia, a protetora dos olhos, padroeira da cidade.

Será que ela protege os olhos do povo devoto, para não cegarem? Ou, com seu véu, ela simplesmente impede que vejam a realidade?




domingo, 12 de dezembro de 2010

Doze do Doze

Dia doze do mês doze do ano dez do milênio três: contagem regressiva. Estamos vivendo a época certa? Estamos vivendo de modo certo a época em que vivemos? Estamos vivendo? Ou apenas passando pela existência? Quem está marcando o seu tempo para além da sua existência? Como? Quem está marcando a sua própria existência aquém do seu tempo? Para quê?

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Dez de Dezembro de Dois mil e Dez

Dez e dez de dez de dezembro: a primeira década do primeiro século do terceiro milênio está-se indo...

Como diz o poeta Antônio Jorge: "Tic-tac tic-tac: o homem marca o tempo. Tic-tac tic-tac: o tempo marca o homem..."

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Velhos tempos, belos dias

VII Encontro Nacional de Estudantes de Filosofia, Goiânia-julho/1987:
Dapaz, Júlia, Rosilene e William (UFRN). À direita: Dada (?UFC), Marcelo (UFRN), Xamyhanha (?UECE). De costas (UFRN): Pires e Rubens (azul).

Turma 84: Marcelo, Rubens, Carlos/85, William, Tânia, Gomes e Pires.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O Que Faço

Amo o que faço!
E o que faço não o faço por fazê-lo
Talvez não faça com a mesma brevidade
Força ou destreza dos mais jovens
Mas com extremo prazer
Íntimo zelo e disposição
Para, se necessário, refazê-lo
Isto tenho certeza que faço.

O que faço
Nem mais nem melhor que ninguém
Digo que faço
Não faço para provar que sei
Mas de que serve o que sei se não repasso?
Se não for para fazê-lo bem
- Pela coletividade e para o bem –
Nem traço

Inquieto-me a cada dia
Ser melhor do que eu mesmo
Sigo passo a passo
Não me preocupo em ser “menor” do que ninguém
Apologia ao simplismo, imediatismo, conformismo
E tantos similares ismos
Eu desfaço
Contudo penso:
Cada um pode
E deve saber ser feliz
Não só pelo que intenta
Mas, sobretudo pelo que é
Com o que tem
E tenta

Todos tem o direito
De ser feliz como sabe ser
Desde que não abuse o espaço de outrem
Talvez não caiba mais que um num mesmo espaço
Entretanto, creio
Que a cada um está reservado
Conquistar o seu também
E vide-verso
Dou respeito
Ao que penso e ao que encalço
O que é ser feliz pra mim
Pode não ser pra mais alguém

Por onde passo deixo um pouco
E levo um pouco
Mesmo de quem não “tem”
Assim neste tear eu teço meu espaço
A vida é para um todo
Nada é totalmente nem permanentemente meu
Nem de ninguém.

Do que faço me preencho quando me esvazio
Não simplesmente faço porque já amo
Mas tão somente porque me extasio
No desafio de aprender amar fazer
O que de bom ainda não sei
Em Deus, isto me faz bem!
Sales de Oliveira
Natal, 01/12/2010.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Primeiro do Último...

CONTAGEM REGRESSIVA: primeiro dia do último mês do último ano da primeira década do primeiro século do terceiro milênio.
Alvorecer na praia de Cabo Branco, João Pessoa, Nordeste do Brasil
Que a luz da razão ilumine as cores dos nossos sentimentos, tornando-nos mais humanos!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Contagem Regressiva

Último dia do penúltimo mês do último ano da primeira década do primeiro século do terceiro milênio. Quem diria?! Haja dias, anos, "ênios", "timos", "eiros" e eiras a cada velha expectativa de nova perspectiva de vida e paz!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Campanha Contra o Cartel dos Combustíveis

Hoje recebi uma mensagem que me chamou atenção, sobre uma pretensa campanha contra o abuso no preço de combustíveis: durante "outubro, novembro e dezembro não se abastecer em postos da distribuidora Petrobras", uma vez que seus lucros exorbitantes e os impostos do governo estariam causando abusos de preço da gasolina, a R$ 2,67.

A ideia até parece interessante, porém assenta-se sobre 2 falhas graves:

1ª) A culpa desses preços abusivos no combustível (R$ 2,67) não pode ser atribuída a "a GANÂNCIA do Governo com seus impostos e a busca desenfreada dos lucros exorbitantes da nossa querida e estimada estatal brasileira". Simplesmente porque em João Pessoa, a gasolina custa apenas de R$ 2,29 a R$ 2,45 (aditivada, paga no cartão de crédito). E o governo é o mesmo, os impostos são os mesmos e a Petrobras é a mesma. E na Paraíba nem existe petróleo nem refinaria da Petrobras. Coisa que existe, por exemplo, no Rio Grande do Norte, em Pernambuco e na Bahia, onde o combustível chega até a R$ 2,80.

Ocorre que lá em João Pessoa existe um Ministério Público ATUANTE, que não permite o cartel nem os abusos; como fez em plena véspera de feriadão, autuando alguns postos que descabidamente exageraram no preço. Pela REAÇÃO do MP e Procon, no dia seguinte os preços voltaram ao normal. E nunca mais os cartelistas ousaram repetir o intento.

2ª falha: por que agir por exclusão apenas dos postos BR? Por que não fazer o contrário? Escolhem-se 2 bandeiras para abastecer e se excluem as demais? Duas bandeiras, para garantir opção, enquanto todas as outras sofrem o prejuízo, sem saber quando serão sorteadas. Nesses termos, segue-se um rodízio a cada semana, enquanto as demais permanecem aguardando a sorte ou então reduzem seus preços.  
Pois, foi assim que o MP e o Procon em João Pessoa comandaram uma campanha de SUCESSO. Por isso, atualmente lá não se encontra mais tal abuso.

Devido a essas duas falhas, a campanha proposta não merece crédito, por não ser confiável. Pois, acusar o governo e a Petrobras de responsabilidade nesse abuso de preço de combustíveis, não parece ser por ignorância de que existem lugares no Brasil, sob os mesmos impostos e que sequer extraem ou refinam petróleo, onde o preço nem se compara a tal abuso. Se fosse por ignorância, seria perdoável. Porém, parece ser por má fé. 
Tanto que propõe uma campanha parecida com a que realmente funcionou, mas a propõe, injustamente, às avessas.
Desconsideram que fazendo assim, não atingirão o governo, tampouco a Petrobras, que vende a todas as distribuidoras. Prejudicarão apenas aos donos de postos, que compram pelo mesmo preço que os demais.
O que ganharia com isso quem a propõe? Quem estaria por trás de tal campanha?
Sinceramente, não sei. Mas está muito parecido com todas aquelas mensagens terroristas anti-Lula e anti-Dilma, durante as eleições

Dá para acreditar que o terrorismo de direita limitou-se à campanha eleitoral?

domingo, 28 de novembro de 2010

Platão e a Escultura

O Carregador d'água. Esculpido em João Pessoa/PB (58052-197)
Ao ver essa escultura, eu não resisti. Eu tinha que fotografá-la. Ela me remete ao tempo de criança, pobre, em bairro carente, em Natal, onde crescemos precisando carregar água para abastecer em casa. Felizmente o bairro, embora carente das condições sociais, tinha rico manancial aquífero, banhado pelo rio Potengi. Por isso havia diversas cacimbas naturais, verdadeiros veios ou olhos-d'água, brotando constantemente da terra. Daí porque também eram chamadas de olheiros, ou ainda "oieiros".
Ao ver tal escultura, senti que precisava mostrar aos meus irmãos, tamanha representação da luta de casa em nossa infância. Então, passeando com o meu Platão, resolvi fotografá-lo junto à escultura, para mostrar que ela está em tamanho humano normal. Ele conferiu e assinou embaixo o livro de visitas caninas. Ele gostou. Não fez oferenda como as que ele deixa no pátio da igreja. Mas, gostou!

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Voto obrigatório na democracia?

Hoje recebi uma "pergunta que não quer calar: por que no Brasil o voto é obrigatório, se estamos numa democracia? Pois, nos Estados Unidos ninguém é obrigado a votar!"

Realmente há uma falha nesta tal democracia brasileira: o voto deixa de ser um direito e se torna um dever, sem qualquer contrapartida.

Entretanto, vale observar que nos Estados Unidos e em outras democracias ditas de primeiro mundo, o voto não é obrigatório, mas a sociedade é educada. E mais que isso: ela é principalmente provida das condições básicas para viver, não apenas para sobreviver. Então, as pessoas usam o voto apenas como instrumento político para viver melhor, sob a garantia de outros direitos. Por isso, quem já está bem e não vê perspectiva de mudança, pode abrir mão do seu direito de votar.

Isso, porém, não acontece no Brasil. Além da grande maioria da nossa sociedade ainda precisar do básico para sobreviver, como bolsa-família, por exemplo, evidentemente por isso, ela não é educada para escolher e decidir o seu voto por interesses sociais e não apenas por interesses pessoais.
Ora, se as pessoas sendo obrigadas a votar vendem seu voto por qualquer emprego, cesta básica, saco de cimento, óculos, consulta médica ou dentadura, imagine se elas não fossem obrigadas, apesar de toda carência econômica e social! 
Pois, sem a obrigatoriedade, certamente seria mais fácil o comprador descobrir quem lhe vendeu o voto e se absteve ou até não votou nele. Pois, seria fácil contar os votos esperados.

E o pior: se na nossa sociedade brasileira ainda há milhares de pessoas que carecem de ajuda do governo para sobreviver, é certamente porque a tal sociedade brasileira ainda não é educada para eleger governantes e parlamentares que cuidem melhor da Educação da nossa sociedade local, estadual e nacional. Pois, como tirar da miséria esse povo, sem a devida educação para a produção social?

O bolsa-família, infelizmente, apenas ajudou na sobrevivência de alguns, pelo que movimentou a economia, propiciando a outros o consumo.
Porque, pobre e mal educado se pega em dinheiro é pra gastar. Quando pensa em trabalhar é visando apenas poder consumir. Jamais pensa em produzir, para ser socialmente útil. Mas de consumidores é o que precisa o capitalismo. Contraditoriamente, porém, os capitalistas negam as condições para que todos possam consumir, até quando a ajuda ao consumo é dada pelo governo. Não percebem que o dinheiro público bem distribuído retorna em benefício para eles também.
Pergunte a qualquer pessoa o que ela faria se ganhasse alguns milhões em prêmio. A resposta mais comum é: COMPRAR... mas isto gera inflação e inveja. Ou seja, ninguém pensa em CONSTRUIR, o que gera produção, emprego, desenvolvimento, utilidade, bem-estar etc.

A mentalidade do consumo, portanto, precisa ser substituída pela da produção. 
Mas isso só pode ocorrer através da Educação. 
Se mudarmos a mentalidade na nossa Educação, então estaremos preparando gente para tirar o povo da miséria econômica. E assim tiraremos da miséria política a nossa sociedade, pois não separo povo e sociedade.
Livre da miséria, então nossa sociedade deverá lutar pelo voto como um direito democrático, e não como uma obrigação, pela qual quem pode pagar não se obriga.

sábado, 13 de novembro de 2010

E Assim Falou Zsalesastuto


Pedra de Seu Chicão no Rio Potengi, Barcelona/RN
Tanto em sonho como na realidade, o que é vivido intensamente faz tremer o corpo, altera o compasso do coração, colore a paisagem, desperta a melodias, aguça o olfato e aquece a pele. Isto é paixão. É o que diz ao nosso corpo que não estamos sós, pois há um Outro que nos afeta. Só precisamos aprender a cuidar desse afeto, como amantes: como aquele que vive afetado pelo viver do apaixonante; que se interessa pelo interesse do interessante; que se importa com o que é importante para o amor do outro. Estes são os amantes. E o amor não é mais do que o cuidado que se tem um com o outro. É por ele que se sonha, que se deseja e se entrega sem pudor, delira-se e vai-se a êxtase. E este é o alimento de toda paixão. 

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O Preço da Música na Mídia

Hoje eu li uma nota na coluna televisão.uol e me lembrei dos versos do Belchior: "Já faz tempo eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida. Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais..." (Como Nossos Pais). Embora o poeta esteja falando do tempo em que a juventude foi reprimida, vale observar que naquele tempo, "quando havia galos, noites e quintais", a Música brasileira e a mídia ainda se encontravam a gosto, não a preço. Quero dizer: a mídia apresentava ao público, com certo gosto, a produção musical de gosto certo, mesmo que fosse às vezes para literalmente "quebrar o disco à cara do artista", como Flávio Cavalcanti fez com o lendário Raul Seixas.
Naquela época certamente os programas de rádio e tv faziam questão de convidar bons artistas, porque tal aparição rendia-lhes alto índice de audiência, tanto à mídia quanto ao artista.
Assim, a mídia alimentou a arte com a fama; pela qual cresceu a quantidade de artistas. E a arte alimentou a mídia com audiência, pela qual cresceu o poder da mídia.
Infelizmente, essa disparidade de crescimento não implicou em melhor qualidade de nenhuma das atividades, porque o alimento continua o mesmo, guiando a arte pelo supérfluo e a mídia pelo dinheiro.
Aquilo que desconfiávamos há tempos agora se vislumbra na nota do Flávio Ricco:
"Jabá oficial
Está cada vez mais complicada a situação da música em várias emissoras de rádio e TV. Se pagar, toca. Caso contrário, esquece. É assim que funciona e até com alguma organização.
Um dos programas mais conhecidos, gerado de São Paulo, cobra R$ 45 mil para duas apresentações. Este valor é dividido ao meio, porque a televisão também leva a parte dela. Detalhe: com nota fiscal.
Ninguém admite ou fala escancaradamente sobre o assunto, mas como se vê não tem sonegação. Legal, mas imoral.
Caso diferente
Outro programa semanal, na mesma televisão, cobra bem menos. Apenas R$ 20 mil, também por duas músicas, porém, neste caso, a emissora não tem participação. Tudo feito por debaixo do pano.
O dinheiro é dividido em sua maior parte entre o diretor e o apresentador, além da comissão de praxe ao intermediário.
Prática antiga
Mas isso não chega a ser nenhuma novidade. No rádio, principalmente em emissoras dos grandes centros, esta é uma prática de muito tempo. Os preços em São Paulo variam de R$ 10 mil a R$ 30 mil, conforme a colocação no Ibope. Também com nota fiscal."
Fonte: http://televisao.uol.com.br/colunas/flavio-ricco/2010/11/10/globo-nao-tera-novamente-ivete-sangalo-no-seu-fim-de-ano.jhtm#jaba
Infelizmente, consiste apenas numa nota de opinião, uma vez que o autor não identifica os agentes envolvidos: quem pagou quanto para se apresentar em quais programas de tv e de rádio e quem cobrou por tal serviço. Por falta dessa informação, portanto, o dito "jornalista" ou colunista, infelizmente, não permite ainda confirmar a nossa desconfiança antiga de que a música no Brasil atende não só às exigências do mercado fonográfico, mas também paga um preço à mídia, regida pela velha máxima do "time is money", cuja fórmula é: tempo escasso + grande demanda = preço alto. 
E o pior: em última instância, quem paga a conta ainda é a cultura brasileira, debitada por esses ditos "fazedores de opinião". Afinal, nas mãos de quem está nossa cultura musical e midiática? Que identidade cultural podemos formar da nossa sociedade, com tal incentivo à produção e tal imposição ao consumo?
Vale, portanto, cantar com o poeta de Grossos/RN, Genildo Costa, os versos de Gonzaga de Areia:
"Por quanto tempo a gente vai ficar aqui, parado? Por quanto tempo?!
Por quanto tempo a gente vai se encontrar nas ruas, nos bares...?
Milhões de seres que o palco desconhece
Milhares de criaturas pelas ruas do País, perdidas no anonimato
Acreditar, cristalizar o sonho e a fantasia
Reinventar o som e tudo o mais que contagia
Pelo prazer de cantar coisas da alma da gente
O belo, o inconsequente
Sob esse céu cor de anil
A vida não é só tua voz gravada numa lâmina de vinil" (Anonimato)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

sábado, 6 de novembro de 2010

Passeio no bosque

Jardim Botânico Mata do Buraquinho de Xuxa, em João Pessoa, PB, Nordeste do Brasil

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Ensinar com paixão

O filósofo Santo Agostinho diz que ao falarmos estamos sempre ensinando algo. Que é por isso que falamos: para ensinar. Mesmo quando perguntamos, estamos ensinando ao outro sobre o nosso desejo de saber. Comparando, então, o tanto que falamos com o tanto que sabemos, talvez estejamos ensinando muito mais sobre a nossa ignorância do que sobre algum saber esperado pelo nosso ouvinte. O problema é: como o outro, o ouvinte, nosso interlocutor, pode constatar que ouviu mais ignorância do que saber? 
Talvez esta reflexão nos remeta imediatamente à situação dos jovens, aprendendo sobre a vida prática, nas ruas, com outros jovens mais experientes. Pois parece ser sobre as coisas práticas da vida que carecemos de professor. Certamente um jovem aprendiz da vida prática não tem como conferir se o que ouve dos outros é saber, de fato, ou é mera ignorância.
Fome de saber
Mas imaginemos uma situação um pouco anterior, porém mais próxima de nós: nossas crianças, no despertar da vida, perguntando-nos sobre tais assuntos, ensinando-nos sobre o seu querer saber. Como nós lhes respondemos? O que nós lhes ensinamos: o nosso saber ou a nossa ignorância? Ensinamo-lhes sobre a energia de viver ou sobre os nossos medos? Sobre as perspectivas de futuro ou sobre as nossas frustrações? Sobre a responsabilidade com o mundo ou sobre as nossas ambições pessoais?
Ora, nossas crianças não têm como conferir. Ao nos perguntar, elas já trazem um pedestal sobre o qual subimos para lhes responder na posição de pais ou de mestres. Elas acreditam que por tal autoridade teríamos também a autoridade de “sábios”. E nós nos valemos disso. Dificilmente conseguimos descer do pedestal. Ele se torna tanto mais alto quanto mais lhes damos certezas. E quando elas, no seu saber infantil, questionam nossas certezas, geralmente as corrigimos dizendo: Isto não é pergunta pra criança! Ou Ainda não chegou o seu momento de saber disso! Ou até mesmo: Eu sou seu pai! Ou Eu sou o professor. Como se dissesse quem sabe, aqui, sou eu, você não tem que duvidar; só obedecer.
Entretanto, não percebemos que quanto mais alto o pedestal de autoridade, maior a distância entre o mestre e o aprendiz. Daí, como elas podem constatar o nosso ensinamento? A quem elas podem recorrer? Restam os colegas da rua, que lá estão com as mesmas dúvidas, porque certamente já sofreram o mesmo distanciamento do pedestal de seus pais e mestres. Então, a fome de saber os coloca à mercê dos mais velhos, mais experientes. E agora?! Que fazer? A quem reclamar a educação das nossas crianças? À Escola?
Saber é poder
É papel da Escola a educação prática da vida? A Escola nos prepara para a vida teórica: os conceitos, os nomes das coisas, a classificação dos seres, o conhecimento da Natureza, a explicação dos fenômenos do mundo, os modos corretos dos usos da língua que falamos, os modos de quantificar coisas, aumentar, distribuir etc. No entanto, as pessoas vivem independentemente desse saber teórico. Por vezes até, possuir tal saber não significa viver melhor do que quem possui apenas o saber prático, da boa relação com os outros, da responsabilidade com o mundo.
Talvez seja um tributo muito alto atribuir aos pais a má educação dos filhos. Mas, considerando o princípio segundo o qual conhecer é poder, o pai, que de antemão sabe mais que o filho, tem poder de ensino sobre este. Ora, quem tem o poder tem também a responsabilidade sobre a educação. Em outras palavras: quem detém mais saber detém também a responsabilidade do educar. Entretanto, talvez se possa alegar que os pais, embora detenham mais saber que os filhos, infelizmente, nem sempre têm a consciência de tamanha responsabilidade: educar bem os filhos, isto é, educa-los para o mundo, visando sempre melhora-lo para as futuras gerações. 
Saber e responsabilidade
Como educar para a cidadania? Como tornar cidadãos os nossos jovens?  Eis o apelo à educação. Para tanto, faz-se mister saber, com Aristóteles, que “a excelência moral relaciona-se com prazeres e dores; e é por causa do prazer que praticamos más ações e por causa da dor que nos abstemos de ações nobres”. Por isso, o discípulo Aristóteles concorda com o mestre Platão, que já nos advertia acerca da necessidade de se educar desde a juventude, em vista do deleite com coisas com as quais devemos nos deleitar, e do sofrimento naquilo com o que devemos sofrer. 
Permitam que seus filhos aprendam a ter compaixão

Ensinem os seus filhos  (...) com paixão.
(Compaixão; Nenhum de Nós)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

ACERCA DA ADOLESCÊNCIA: Das Minhas Meninas


Admirar as minhas meninas faz-me lembrar os versos da música de Chico Buarque: "Olha as minhas meninas, aonde é que elas vão?...". E ouvi-la faz-me pensar no estado adolescente das minhas meninas. ...Interessante! Parece que nossas meninas nunca deixam de ser meninas, para nós. Intrigante, porém: parece que na adolescência elas não querem mais ser meninas e descobrem antes de nós que também não serão sempre nossas. Então elas começam a escapar ao nosso cerco. Mas isto nós só percebemos quando elas “saem sozinhas [fora] das notas” de qualquer canção. Somente assim, talvez, percebemos que elas só “são minhas, tão minhas na minha ilusão”, no poema que faço, na imagem que traço e na educação que lhes dou. Mas, seria a nossa educação uma cerca? 


Talvez, já que educar requer o estabelecimento de limites. E o medo de perda nos faz cercar de cuidados as nossas crianças. Contudo, na adolescência, elas não querem mais tantos cuidados, porque não querem mais ser crianças. É que a adolescência parece constituir-se num estágio de transição. Um estado de puro movimento: no qual o adolescente já não é mais criança, contudo, ainda não é adulto. Indefinição que gera uma dificuldade aos próprios adultos, como a indeterminação de direitos e deveres do adolescente frente aos pais, que dizem: “você não tem mais idade para usar essa roupa”; enquanto, confusamente, também afirmam: “você já tem idade bastante para escolher sua própria roupa!” Talvez, por isso, o grande drama do adolescente seja a sua própria identidade, a busca do encontro consigo mesmo. É um momento comparável ao do casulo: que ainda não é borboleta nem é mais lagarta; porém espera não apenas pela substituição da velha roupagem para expor uma nova, mas fundamentalmente pela manifestação de um novo ser.
Parece que na adolescência o ser do indivíduo se expande tal qual a borboleta que já não cabe no seu próprio casulo, tornando-se maior que o próprio corpo. Eis a exigência de liberdade. O ser adolescente se sente no cativeiro do próprio corpo cujo crescimento não acompanhou a sua expansão fenomenológica, intelectual, psicológica. O seu mundo já não cabe em si. Por isso nada identifica melhor o adolescente do que a rebeldia, que tem como pressuposto a busca de liberdade: ...a ânsia de se livrar da cerca da nossa educação.
Eis, pois, duas características básicas da adolescência: a ideia de liberdade e o comportamento ansioso.  O adolescente tem pressa de liberdade. Porque ele se sente preso pelas regras familiares, pelas normas sociais, pela escassez financeira imposta pelo consumismo capitalista. Nesse sistema tende-se a confundir liberdade com realização das vontades, satisfação dos desejos, das pseudonecessidades criadas pelo sistema. Então, os libertários tornam-se avessos a proibições, exceto àquela que proíbe proibir. Eles acreditam que ser livre é cada um satisfazer seus próprios desejos sem ter que dar satisfações a ninguém. Algo como na Sociedade Alternativa, de Raul Seixas, cujo princípio é: “faça o que tu queres, pois é tudo da lei.” Entretanto, eles não percebem que a realização do desejo do outro pode colidir com a do seu próprio desejo. E, então, qual deverá ser realizado? 
Todavia, ante a dificuldade de responder a tal questão, teórica e praticamente, e uma vez incorporadas as tantas pressões cotidianas em casa, na escola, nas escolhas de amizade, de namoro, de profissão etc. alguns jovens chegam a julgar que a liberdade é uma ilusão, visto que se choca com as normas, exigindo sempre a responsabilidade dos seus atos. Nesse sentido, se as normas são necessárias para o convívio social, então inexiste liberdade, pois, segundo esse entendimento, onde há necessidade que gere uma obrigação ou proibição, não há liberdade. E se não há liberdade, para que a pressa? Eis porque, geralmente, a ânsia transforma-se em comodismo; e a rebeldia em decepção. 

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Das Dores de Maria

Chega a morte
Vai-se um bem:
O ânimo de um ente querido
E em ritual
Os animais humanos
Despedem-se de um corpo rijo, sem ânimo
E os ânimos em desânimo dizem amém!
Amém! Assim seja
O fim das dores de Maria
Que as suportou sem manha
Mãe nossa de cada dia!
Dá-nos hoje o consolo
Em alegria sã
Pelo reconhecimento do seu espírito sereno
Fortaleza de seu corpo frágil
Áurea que resistiu ao fardo, ao tempo
Sob uma maldição de batismo
Sem da morte maldizer
 Mãe nossa de cada dia!
Dá-nos hoje a lição de admirar
Humilde sabedoria
Que só em farto coração
Suportaria o caminhar
Marcando passo em agonia
Pressentindo a morte
No compasso
De um enfartado coração
E à dor aberta da ignorância
Que fique a auréola ainda
Da divina instância
Que faz da alma essência:
O amor!
Porque
Aos mortos vão as flores
E aos vivos, a lição da lide
Antes que a morte chegue
E em desânimo regue as dores
De quem à sorte ocupa a vida
Preocupado com a morte
Então
Anima-nos, Amor!
Animai-vos vós animais
Que se amam:
Pai, filhos e irmãos!
Pois, os corpos vão
E os amores ficam
Em ânimo são
Dizendo: AMEM!
Amém!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A Mina Lógica

Ahmina Raiara foi a minha primeira filósofa. Na verdade, foi com ela que fui instigado a pensar sobre a inteligência pueril. Observando-a foi que entendi aquela primeira frase da Metafísica de Aristóteles: “O homem tem por natureza o desejo de saber”. 
Seus questionamentos e observações eram tão interessantes que sempre que eu os comentava, o amigo Bispo dizia: “Homem, anote isso! São ótimos elementos para uma oficina de Filosofia para Criança!”. No entanto, hoje fico aqui tentando relembrar algumas daquelas que, inclusive, já foram ilustrativas em sala de aula. 
Uma das melhores que já vivenciei foi sobre o raciocínio lógico. Talvez ela tivesse uns cinco ou seis anos de idade quando, numa discussão com sua mãe, me fez rir sozinho com sua argúcia argumentativa.
À noite, ao chegar do trabalho, cansado, mesmo assim ficavam as duas querendo conversar comigo: Ahmina e a mãe. Certa vez Ahmina quis contar-me algo que ela ouvira de uma coleguinha durante o dia. Uma notícia que certamente já havia contado para a sua mãe. Entretanto, esta também tinha algo a me contar e queria aproveitar o mesmo momento. Então, de tanto insistir naquela conversa, Ahmina provocou na mãe uma resistência, que reclamou: – Também... você acredita em tudo o que ouve. E Ahmina retrucou: Acredito não. A mãe reforçou: Acredita sim, que quer contar a seu pai.
Ela, então, rebateu: E quando a senhora conta a painho as coisas que ouviu das suas amigas é porque acreditou?
E assim ela cessou a discussão, deixando a mãe em aporia.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O Porta-jóia da Amizade

 Duas meninas conversavam empolgadíssimas. Não falavam sobre amizade, mas se consideravam muito amigas. Porém, como sempre, uma parecia ter muito mais entusiasmo em falar do que a outra em ouvir. O tema era joias e bugigangas. Então, certamente falava mais aquela que tinha mais o que dizer sobre joias, porque, possivelmente, as tinha em maior quantidade. A outra, por sua vez, parecia sentir mais prazer em ouvir, meio encantada com tanta beleza em exposição pela boca da sua amiga; embora, por vezes, parecesse também querer falar um pouco do pouco que tinha em bugigangas que ela mesma confeccionava, mesmo que fosse apenas para desfila-las em reverência à joalharia daquela.
De repente, a mais ouvinte perguntou para a mais falante onde ela guardava suas joias. Ao que ela respondeu: – No meu quarto.
Sim, mas em quê?
Num porta-joias que minha mãe comprou.
Aí a amiga achou o filão sobre o qual tinha mais o que falar, pois havia produzido ela mesma a sua própria caixinha de joias: bela, prática e econômica. Então a esbanjou compensatoriamente quer pela beleza, quer pela praticidade, quer pela economia e até pela autoridade de artesã. Parecia simplesmente a sua joia rara feita para guardar bugigangas.

Impressionada, a outra quis comprar-lhe a peça, argumentando sê-la mais adequada para guardar preciosidades do que quinquilharias. Ao que a amiga retrucou: – Obrigada pelo interesse! Mas acho que você precisa aprender a valorizar mais o que não tem preço!
Observei, pois, que enquanto a menina ouvinte tratava a amiga falante como se fosse a sua própria caixinha de joias, peça construída com muito esforço, na qual ela tentava repousar seus tristes segredos, talvez até apenas para não a deixar vazia, a amiga falante, por sua vez, via a amiga ouvinte igualmente ao seu porta-joias, na verdade uma bugiganga pelo que fora pago um preço: útil! Porém, como mera vitrine para exibir suas posses.
Então fiquei pensando: será que a amizade é assim como uma caixinha de joias: pronta para guardar e expor os penduricalhos que apenas passam por ela, mesmo quando eles se acham mais valiosos que ela, tendo-a como uma bugiaria? O que é amizade, afinal?

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Entrevista Filosófica


Ariadn Raílla simula uma entrevista escolar e diz: “Eu gostaria de saber algo sobre a Filosofia: o que ela é, como é fazer Filosofia... coisas desse tipo.
É fantástico participar de uma brincadeira tão séria! Mas confesso que fiquei sem saber o que responder ou como responder. O interessante é que de repente eu me vi traindo os meus instintos: pois costumo sempre lhe responder a perguntas sérias, brincando. Naquele momento, porém, a brincadeira me chamou à seriedade da questão: como dizer a uma criança de sete anos de idade o que é Filosofia?
Para escapar à tentação de elaborar um discurso filosófico incompreensível a um leigo, geralmente a pergunta é simplesmente devolvida: – O que você acha? Então, quando retrucado: – Você não acha que...? Ou: Será que...? Às vezes no condicional, em tom hipotético: – E se...!? Contudo, aquela entrevista não me permitia fugir da pergunta. Era preciso assumir o papel de entrevistado e respeitar o da entrevistadora, não frustrando a sua expectativa de uma resposta compreensível à racionalidade de uma criança.
Então, arrisquei: – A Filosofia é um saber que lida com o pensamento.
E ela, como filósofa nata que é enquanto criança, quis entender o que é lida. Isso me fez perceber que aquele discurso não estava tão claro quanto pretendia. Mas não foi difícil dizer-lhe que lidar significa trabalhar, ocupar-se com alguma coisa. E a coisa com a qual a Filosofia se ocupa, o seu objeto de trabalho, é o pensamento. É com isto que ela lida. 
Expressando um ar de meditação, após alguns segundos ela resolve conferir o seu entendimento, reforçando: – Ah! É como quando eu fico parada, pensando: me lembrando de uma brincadeira ou imaginando uma roupa prá vestir...
Daí a resposta foi meio seca: – Não. Não é bem assim. Se fosse, todo pensamento seria filosófico. Mas, ainda me negando a responder prontamente, talvez para compensar essa resposta, sugeri-lhe que haveria uma outra pergunta a ser feita. E antes mesmo que eu dissesse qual seria, ela completou: – Então, qual é o tipo de pensamento... que interessa à Filosofia?
Confesso que aquilo me deixou maravilhado, como se fosse eu próprio que estivesse filosofando, pois naquele momento me apercebi numa conversa filosófica. Veio-me até uma vontade de lhe sugerir a leitura do texto Pensando o Pensamento[1], para acrescentar que no primeiro caso – lembrando uma brincadeira – podemos dizer que se está usando a memória, enquanto no segundo – no tocante à imagem de uma roupa – estar-se-ia usando a imaginação. Ora, memória e imaginação, a rigor, são instrumentos do pensar; porém, isoladamente, não se constituem no pensamento propriamente dito, isto é, no pensamento humano, pois outros animais também usam tais faculdades. Mas seria muita covardia. Eu não poderia fazer isto nem com um entrevistador adulto, numa entrevista séria, tampouco numa brincadeira. Aliás, tudo o que era dito era anotado: perguntas e respostas.
Assim, antes que ela se cansasse e me deixasse falando sozinho, no meu maravilhamento, fui direto ao que interessava: – A Filosofia se ocupa de pensamentos questionadores, como esse seu, que pergunta pelo que ainda não conhece, querendo saber. Por isso também se diz que a Filosofia busca sempre o conhecimento.
E ela questiona: – Então, fazer Filosofia é só perguntar? 
Na verdade, não é só isso. Para fazer Filosofia não se pode ficar apenas nas perguntas. É necessário também tentar respondê-las. Mas perguntar já é um bom começo.  
Daí, encerrando as suas anotações, ela agradeceu dizendo: “Isto foi uma entrevista muito legal[2]. Só então é que eu percebi que aquela prazerosa conversa filosófica motivada por uma séria brincadeira não tinha outra fonte senão a própria entrevistadora, instigada pelo desejo nato de conhecer. E ela ainda diz: “Talvez quando eu crescer eu queira fazer Filosofia”. ...Quiçá!



[1] W.C. Oliveira. Pensando o pensamento: uma introdução ao filosofar. Expressão-Revista da Fundação Universidade Regional do Rio Grande do Norte, Mossoró, RN, ano 22, n° 5, p. 149-52, maio/1991.
[2] Digitado pela própria, para concluir o texto após conferi-lo.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Qual o Sentido da Vida?

Há quem diga que “os poetas vão salvar o mundo!”. Diga isso a um Poeta e provavelmente ele indagará: quem disse que eu quero salvar o mundo? Eu quero é viver. Apenas faço da poesia a minha expressão de vida. Vivo a poesia. Para que salvar o mundo? Não posso sequer salvar a mim mesmo! 
Essa tarefa não é poética. É política. É religiosa. Numa querem salvar o mundo; na outra, o humano. Mas quem pode dizer que salvou alguém? No fundo o que todos querem é viver, é ser feliz. Inclusive o poeta. O poeta apenas exprime sua vida. ...Sua, minha, dele, nossa... Assim também o político decide a sua vida e o religioso a salva.
Decida! Salve-se se quiser! Viva!
Pois não nos adianta procurar o sentido da vida. Nenhum poeta nos mostrará tal sentido. Nenhum político. Nenhum religioso. Simplesmente porque a vida não tem sentido. O sentido da vida é o que nós lhe damos: com a poesia, com a política, com a religião... Porque vida é atividade. É energia. É magia que criamos sem saber. Pois vida é também potência, possibilidade, poder.
O sentido da vida? Não está na vida. Está em quem vive. Está em saber viver. Feliz de quem dá sentido à vida.
Quer emprestado um sentido para a vida? Procure um Poeta, siga-o; não como salvador do mundo, mas como pessoa que poetiza a vida porque a quer bela, suave. Quer salvar o mundo? Procure um Político, siga-o; não como um salvador, mas como pessoa que politiza a vida porque não aceita determinação. Quer salvação? Procure um Religioso, siga-o; não como um salvador, mas como pessoa que transcende a vida porque quer viver mais por muito mais tempo.
O sentido da vida? Pobre dos seres inanimados, pois não podem lhe dar sentido. Mas triste do ser sem sentido, pois, embora tenha vivido, não aprendeu a viver; por isso se desanima. Então, viva! “...Animai-vos vós animais que se amam: pais, filhos e espíritos sãos! Pois os corpos vão e os amores ficam em ânimo são, dizendo: Amem! Amém!p



p Excerto do poema Das Dores de Maria: Coelho Di Will/1999.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Lições Para Uma Droga de Vida



Certa vez eu vi D. Hélder Câmara, então arcebispo de Recife, dizer: "o jovem se droga porque acha a vida uma droga". E fiquei a pensar na beleza e na sabedoria daquelas palavras. Apesar daquela beleza, contudo, eu ainda me perguntava: mas, o que é uma droga? Pois, o sentido corriqueiro de que "a vida é uma droga" eu até entendera, de tanto ouvir falarem, geralmente quando não se conseguia alcançar algo desejado: ISSO É UMA DROGA!. Entretanto, se a droga expressava algo tão ruim quanto a insatisfação de um desejo, como alguém poderia buscar nela uma satisfação? Que tipo de satisfação? Ou, em que sentido ela era tão ruim? Isto, realmente, eu ainda não entendia. Parecia haver uma contradição ali. 
Eu confesso que até desejei experimentar alguma droga, a fim de compreender o que ela causava. Mas, felizmente, eu não achava a vida uma droga. Por isso, preferi aprender observando o que acontecia com os outros. Certamente eu não tinha desejos insatisfeitos. Embora fôssemos pobres, eu tinha pai e mãe e cinco irmãos com quem brincar. Tinha amigos com quem conversar e me divertir, tanto no bairro quanto na escola, embora alguns deles usassem droga. Tinha parentes que demonstravam afeto e respeito por mim. Meu pai, aliás, apesar de fumar, não o fazia em nossa presença nem aceitava sequer que manuseássemos cigarro. Até parecia uma arma de fogo, cujo perigo exigia sempre o cuidado de um adulto. 
Felizmente, meu pai não bebia alcoólicas. Lembro-me que eu achava ridículo pessoas embriagadas. Eu até considerava o mal do fumante menor do que o do alcoólatra, devido à embriaguez. Certamente, porque eu não via meu pai cometer qualquer mal por causa do cigarro, como via outras pessoas o fazerem devido ao álcool. Mas eu nem percebia que isso também era um tipo de droga. Infelizmente, meu pai já se drogava, embora respeitasse a nossa presença. Sem que percebêssemos, ele já era viciado, apesar do seu vício não afetar a ninguém, exceto a si próprio.
Não obstante o fato de ele fumar e termos amigos que já fumavam, nenhum de nós quatro irmãos nos iniciamos no vício; nem as mulheres, claro! Certamente devido à nossa mãe, que não aceitava tal atitude. E creio até que era ela que impunha a nosso pai o respeito de não fumar na nossa presença, para não dar mau exemplo. Tais amigos, porém, posteriormente viciaram-se em outras drogas que os levaram à morte.

Lições de Valor

Minha mãe era forte na nossa educação, mesmo quando chorava por raiva ou medo de nos desviarmos dos seus valores. E nem eram tantos, mas eram sábios. Eu detestava desapontá-la, vê-la triste ou com raiva. Assim, aprendi que não devemos fazer sofrer a quem amamos.
Ela era semi-analfabeta, mas cuidou para que estudássemos. Ela nos ensinou o que não se ensina na escola nem nas ruas. Na escola aprendemos a calcular, falar e escrever corretamente e discutir sobre o mundo teórico das coisas da vida. Nas ruas aprendemos coisas sobre a vida prática: a amizade, a violência, auto-defesa, aventura e sobrevivência, inclusive sobre as drogas da vida. 
Felizmente, como meu pai provia a nossa sobrevivência, minha mãe providenciava nossa vivência nos ensinando respeito ao Outro: não importando se era ao irmão, amigo ou desconhecido. Por isso, embora brigássemos na rua, nós sabíamos que ela não devia saber. Pois, diferentemente de outras mães que ameaçavam bater no filho se ele apanhasse na rua, mamãe alertava: "se brigar na rua e apanhar, quando chegar em casa apanha novamente; e se bater, também apanha". O pressuposto era:  eu não quero é que briguem. Assim, ela nos ensinou a dignidade, o respeito a nós mesmos, de cada qual por si próprio.
Eu admirava como minha mãe conseguia respeitar o gosto de cada um de nós, mesmo sem a condição material para satisfazer o gosto de todos. Lembro-me como ela providenciava alimento diferente para aquele de nós que não gostava da refeição do dia. E sua justificativa era simples, para que os outros não ousassem querer o que era do outro: ele não gosta do que vocês gostam. E não adiantava reclamar, porque sabíamos que o seu senso de justiça valia para todos e para cada um. Então, nós aprendemos a nem desejar o que é do outro.
Pela alimentação, também, ela nos ensinou outro valor simples, do qual não abria mão e dizia ter aprendido com o seu pai: todos à mesa para as refeições junto com o pai. Lembro-me, inclusive, de como todos permanecíamos à mesa, após o jantar, ouvindo rádio; ...depois televisão mudou isso, mas, graças a esse convívio, já estávamos preparados para sair de casa à noite para estudar, brincar ou namorar.
Num certo período, meu pai trabalhava o dia inteiro e ainda estudava à noite, mas compartilhava conosco algum tempo do final de semana: levando-nos ao seu local de trabalho, ou para assistir jogo de futebol ou para jogarmos com seus amigos ou ele conosco e nossos amigos, na praia. Eu adorava perceber a admiração que nossos colegas e os dele tinham pelo meu pai jogar entre nós. Além disso, às vezes ele nos levava para visitar nossos parentes na zona rural. E lá era a vez de ele nos ensinar o respeito aos outros, inclusive aos animais, assim como o auxílio aos mais necessitados. Eu me orgulhava disso! 

A Droga da Carência e a Carência da Droga

De fato, nossa vida não era uma droga! Nós não tínhamos desejos insatisfeitos. Nós aprendemos a não desejar coisas que não satisfaziam, que só faziam bem a nós próprios, num prazer individual, subjetivo e egoísta. Afinal, nós tínhamos sempre alguém com quem compartilhar nossa dor ou nosso prazer. Nesses termos, parece que o sábio D. Hélder tinha razão, pois nós aprendemos a não sentir a droga da carência.
No entanto, vale lembrar que, tecnicamente, alguns organismos têm mais resistência ao vício do que outros, a certas drogas. Por exemplo: alguém pode embriagar-se com uma única dose, enquanto outro bebe dez para o mesmo efeito. Além disso, a droga não pode ser pensada simplesmente com referência àquelas ilícitas pelas quais se cometem crimes. Pois, embora elas causem algum prazer, o que há de comum entre elas e a droga da vida é o desprazer ao cessar seu efeito: a dor de frustrar o desejo, a qual gera o vício em busca do prazer prometido. E o vício é a necessidade do fútil; daquilo cujo bem é cada vez menor quanto maior é a carência.
Em outras palavras, o bem ou prazer torna-se tão virtual quanto mais real é a dor ou necessidade. Por isso o vício faz tanto mal, independentemente de qual seja a droga: fumo, álcool, pó, pedra, remédio, tóxico, que adentram o corpo pelas vias respiratórias ou venosas; tanto quanto aquelas de aluguel que acessam a mente pela visão ou pelos ouvidos ou pelo corpo inteiro, como TV, DVD, videogame, internet, fofocas, jogos de azar, música fútil e até sexo de orgasmo duvidoso ou qualquer outra coisa cujo prazer é injustificável, por ser virtual, egoísta ou exagerado. 
Por isso, penso eu, que se o domínio do prazer e da dor não for aprendido desde a infância, na relação de respeito humano entre pais e filhos, amigos, adultos e crianças, através da satisfação afetiva e mútua, infelizmente, estar-se-á criando uma carência pessoal, cuja satisfação tenderá à virtualidade, para quem a vida se tornará realmente uma droga.