Eu sou UERN... desde 1988. Do segundo concurso da recém-estadualizada Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte: graças à luta histórica de Professores e Alunos da então URRN –
Universidade Regional do RN. Luta que envolveu diversos representantes da região
Oeste potiguar: desde a Igreja – católicos e evangélicos –, até da Maçonaria,
de Sindicatos e do empresariado, através do CDL. Luta social que sensibilizou o
intelecto do então governador Radir Pereira (14/05/1986-15/03/1987, outrora
vice-governador, substituindo José Agripino/1983-86).
Certamente essa foi a maior
de todas as lutas: consistiu em dar nova perspectiva de futuro a um dos estados
mais pobres e atrasados do Nordeste do Brasil. Transformou-se em estadual o que
era apenas municipal (de Mossoró, e regional: do Vale do Assu ao Alto Oeste potiguar).
A jovem UERN, então, encarregou-se de formar centenas de jovens que não tinham
condição de estudar na capital. Ela nasceu no interior (Lei 20/68-CMM) e
se expandiu pelo Estado[1], dando voz e vez ao jovem
interiorano e até lhe proporcionando o sonho do curso superior, da ascensão e da
mudança socioeconômica.
Atualmente, a grande maioria
dos nossos egressos está na Rede Pública de Ensino. Como o Estado teria
profissionalizado tantos professores do Ensino Básico, sem a interiorização da
UERN? Cerca de 93% dos Professores municipais de Mossoró são oriundos da nossa
Instituição de Ensino Superior, assim como em Assu, Patu e Pau dos Ferros.
Outros tantos estão em repartições públicas no interior do Estado. Outros se tornaram
profissionais liberais: advogados, médicos, odontólogos, cientistas da
computação, contadores, administradores do próprio negócio... todos
contribuindo para a movimentação da economia local.
Alguns foram desbravar o
Serviço Público em outros estados do Norte: Assistentes Sociais, Enfermeiros,
Pedagogos, Cientistas Sociais etc. Outros até já fazem parte da elite do
Serviço Público no Nordeste: alguns juízes, promotores e até reitor da Universidade
Estadual de Alagoas. Em que situação estaria o RN se não existisse a UERN
cumprindo esse papel fundamental de formadora de profissionais no interior do
Estado?
É fato que desde o seu
nascimento (28/09/1968) a UERN cresceu e apareceu: em números, em extensão, em
patrimônio físico e pessoal. Mas, será que ela amadureceu nos últimos 30 anos?
Por que ainda precisamos defendê-la em audiência pública na Assembleia
Legislativa do Estado, contra um insano alarde de privatização? Por que o governo
de um Estado pobre como o RN cria Curso de Gestão Pública fora da sua
Universidade? Por que a Escola de Governo não está dentro da própria
Universidade estadual? Não teríamos competência para isso?
Apesar dos funestos interesses da elite política retrógrada do nosso Estado, não seria interessante se pensar a nossa Universidade – não como mera repartição pública encarregada do Ensino Superior, mas, por ser formadora de profissionais de nível superior – como uma IES cujo papel deve consistir em pensar e mudar a realidade pelo menos do município de cada campus, estendendo à região circunvizinha e, por conseguinte, do nosso Estado? A missão precípua da nossa Universidade não consistiria em servir de modelo de gestão do Serviço Público? E em que isto consiste se não no fato de Servir ao Público? Ou seja, promover o Serviço Público de modo diferenciado, em resposta às críticas pertinentes a toda prestação de serviço; em nosso caso, servir à sociedade potiguar, mediante a produção e democratização do conhecimento, que gere riqueza social, fortalecendo e remodelando a identidade cultural local sob a universalidade humanista.
E do que precisamos para
tanto? De pessoas que, de fato, pensam e lutam por uma UERN diferente dessa
adolescente balzaquiana (quase 30 anos de estadualização)[2]. Pessoas que vislumbrem
uma Universidade madura, autônoma financeiramente e politicamente democrática;
capaz de decidir e gerir seus rumos entre os seus pares: Professores, Técnicos
e Estudantes; aberta à sociedade para pensar seus problemas e antecipar-se com
as soluções. Pessoas que não se sintam elite pelo título universitário nem pelo
salário; mas que se tornem tal pelo reconhecimento da sociedade à contribuição
pelo seu serviço prestado. Eis o patrimônio imaterial que a UERN tem
construído e precisa amadurecer para o desenvolvimento social da região e do
Estado.
Precisamos de uma mentalidade nova, mas com bastante experiência sobre a adolescente UERN: pessoas com visão histórica e crítica, coragem e vontade de construir agora o novo futuro da nossa Universidade. Capazes de pensar e implementar ações que congreguem a comunidade universitária em torno do seu fim último: prover conhecimento a serviço da sociedade potiguar. Isto exige desprendimento de privilégios vãos; esforço coletivo, maturidade e responsabilidade com a coisa [res] pública, para gerir o patrimônio público em vista do desenvolvimento social.
Está provado que isto não se
faz por conivência ou apadrinhamento político partidário, como quem dirige uma
prefeitura à moda da política tradicional. É preciso coragem para amadurecer e
criar uma nova tradição. É necessário maturidade para emancipar-se. Emancipação é uma conquista de quem busca a liberdade; é a responsável pela saída da adolescência. Sem a autonomia
de gestão financeira a UERN continuará a mercê de interesses
esconsos.
Somente a autonomia
financeira da nossa Universidade, sob uma gestão responsável, livre e democraticamente
transparente, pode nos dar a todos – Professores, Técnicos, Estudantes e Sociedade
– a dignidade e a valorização que a comunidade uerniana merece.
[1]
Sua expansão ocorreu durante a sua infância (1968-87), criando-se o campus de
Assu (1974), o de Pau dos Ferros (1977), e o de Patu (1980). Durante a sua
adolescência (1987-2017) criaram-se o campus de Natal e o de Caicó, em 2002,
além do Núcleo Avançado de Educação Superior, em Macau, e mais 10 Núcleos até
2005.
[2]
Pela Lei nº 5.546/87-ALRN, em 08/01/1987, encerrou-se sua infância de 18
anos. Reconhecida pelo MEC em 1993 (Portaria nº 874/93), esta adolescente
de 48 anos ainda reclama a sua emancipação, por uma Lei de Autonomia, desde a Assembleia
Estatuinte da UERN, em 2010.