segunda-feira, 21 de novembro de 2016

DA ADOLESCÊNCIA PARA A EMANCIPAÇÃO DA UERN

Eu sou UERN... desde 1988.  Do segundo concurso da recém-estadualizada Universidade do Estado do Rio Grande do Norte: graças à luta histórica de Professores e Alunos da então URRN – Universidade Regional do RN. Luta que envolveu diversos representantes da região Oeste potiguar: desde a Igreja – católicos e evangélicos –, até da Maçonaria, de Sindicatos e do empresariado, através do CDL. Luta social que sensibilizou o intelecto do então governador Radir Pereira (14/05/1986-15/03/1987, outrora vice-governador, substituindo José Agripino/1983-86). 

Certamente essa foi a maior de todas as lutas: consistiu em dar nova perspectiva de futuro a um dos estados mais pobres e atrasados do Nordeste do Brasil. Transformou-se em estadual o que era apenas municipal (de Mossoró, e regional: do Vale do Assu ao Alto Oeste potiguar). A jovem UERN, então, encarregou-se de formar centenas de jovens que não tinham condição de estudar na capital. Ela nasceu no interior (Lei 20/68-CMM) e se expandiu pelo Estado[1], dando voz e vez ao jovem interiorano e até lhe proporcionando o sonho do curso superior, da ascensão e da mudança socioeconômica.
Atualmente, a grande maioria dos nossos egressos está na Rede Pública de Ensino. Como o Estado teria profissionalizado tantos professores do Ensino Básico, sem a interiorização da UERN? Cerca de 93% dos Professores municipais de Mossoró são oriundos da nossa Instituição de Ensino Superior, assim como em Assu, Patu e Pau dos Ferros. Outros tantos estão em repartições públicas no interior do Estado. Outros se tornaram profissionais liberais: advogados, médicos, odontólogos, cientistas da computação, contadores, administradores do próprio negócio... todos contribuindo para a movimentação da economia local.
Alguns foram desbravar o Serviço Público em outros estados do Norte: Assistentes Sociais, Enfermeiros, Pedagogos, Cientistas Sociais etc. Outros até já fazem parte da elite do Serviço Público no Nordeste: alguns juízes, promotores e até reitor da Universidade Estadual de Alagoas. Em que situação estaria o RN se não existisse a UERN cumprindo esse papel fundamental de formadora de profissionais no interior do Estado? 
É fato que desde o seu nascimento (28/09/1968) a UERN cresceu e apareceu: em números, em extensão, em patrimônio físico e pessoal. Mas, será que ela amadureceu nos últimos 30 anos? Por que ainda precisamos defendê-la em audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado, contra um insano alarde de privatização? Por que o governo de um Estado pobre como o RN cria Curso de Gestão Pública fora da sua Universidade? Por que a Escola de Governo não está dentro da própria Universidade estadual? Não teríamos competência para isso?

Apesar dos funestos interesses da elite política retrógrada do nosso Estado, não seria interessante se pensar a nossa Universidade – não como mera repartição pública encarregada do Ensino Superior, mas, por ser formadora de profissionais de nível superior – como uma IES cujo papel deve consistir em pensar e mudar a realidade pelo menos do município de cada campus, estendendo à região circunvizinha e, por conseguinte, do nosso Estado? A missão precípua da nossa Universidade não consistiria em servir de modelo de gestão do Serviço Público? E em que isto consiste se não no fato de Servir ao Público? Ou seja, promover o Serviço Público de modo diferenciado, em resposta às críticas pertinentes a toda prestação de serviço; em nosso caso, servir à sociedade potiguar, mediante a produção e democratização do conhecimento, que gere riqueza social, fortalecendo e remodelando a identidade cultural local sob a universalidade humanista. 
E do que precisamos para tanto? De pessoas que, de fato, pensam e lutam por uma UERN diferente dessa adolescente balzaquiana (quase 30 anos de estadualização)[2]. Pessoas que vislumbrem uma Universidade madura, autônoma financeiramente e politicamente democrática; capaz de decidir e gerir seus rumos entre os seus pares: Professores, Técnicos e Estudantes; aberta à sociedade para pensar seus problemas e antecipar-se com as soluções. Pessoas que não se sintam elite pelo título universitário nem pelo salário; mas que se tornem tal pelo reconhecimento da sociedade à contribuição pelo seu serviço prestado. Eis o patrimônio imaterial que a UERN tem construído e precisa amadurecer para o desenvolvimento social da região e do Estado.

Precisamos de uma mentalidade nova, mas com bastante experiência sobre a adolescente UERN: pessoas com visão histórica e crítica, coragem e vontade de construir agora o novo futuro da nossa Universidade. Capazes de pensar e implementar ações que congreguem a comunidade universitária em torno do seu fim último: prover conhecimento a serviço da sociedade potiguar. Isto exige desprendimento de privilégios vãos; esforço coletivo, maturidade e responsabilidade com a coisa [res] pública, para gerir o patrimônio público em vista do desenvolvimento social. 
Está provado que isto não se faz por conivência ou apadrinhamento político partidário, como quem dirige uma prefeitura à moda da política tradicional. É preciso coragem para amadurecer e criar uma nova tradição. É necessário maturidade para emancipar-se. Emancipação é uma conquista de quem busca a liberdade; é a responsável pela saída da adolescência. Sem a autonomia de gestão financeira a UERN continuará a mercê de interesses esconsos.  
Somente a autonomia financeira da nossa Universidade, sob uma gestão responsável, livre e democraticamente transparente, pode nos dar a todos – Professores, Técnicos, Estudantes e Sociedade – a dignidade e a valorização que a comunidade uerniana merece.





[1] Sua expansão ocorreu durante a sua infância (1968-87), criando-se o campus de Assu (1974), o de Pau dos Ferros (1977), e o de Patu (1980). Durante a sua adolescência (1987-2017) criaram-se o campus de Natal e o de Caicó, em 2002, além do Núcleo Avançado de Educação Superior, em Macau, e mais 10 Núcleos até 2005.
[2] Pela Lei nº 5.546/87-ALRN, em 08/01/1987, encerrou-se sua infância de 18 anos. Reconhecida pelo MEC em 1993 (Portaria nº 874/93), esta adolescente de 48 anos ainda reclama a sua emancipação, por uma Lei de Autonomia, desde a Assembleia Estatuinte da UERN, em 2010.