Diante de tanta notícia ruim, diariamente, cujo resultado é, geralmente, um adoecimento do humor e da percepção do real, cujo sintoma é o descrédito na Política e até na humanidade, decidi precaver-me disto acessando antes algo que me fizesse rir e compartilhando-o nos vários grupos e entre amigos numa lista de Bom Dia no meu whatsapp. No entanto, um amigo filósofo me questionou:
Talvez
venha da minha compreensão de que preciso usar minha força interior (sorrir e
aprender) para me vacinar diariamente contra as más forças exteriores e não me
entregar ao mau humor ou pessimismo que elas proporcionam.
Esse
otimismo não incorreria num solipsismo inócuo à solução dos problemas objetivos
do mundo real?
Ora,
se a questão se reduzir a deixar para os outros encararem a solução dos
problemas do mundo intersubjetivo, de fato, isto não pode ser salutar à
sociedade.
Mas
a questão pode ser: COMO encarar os problemas do mundo intersubjetivo?
E
a proposta é: vacinando-se com o sorriso antes de enfrentar as más notícias
cotidianas. Pois, a depender delas, certamente, não há como se ter um bom dia.
Para
isto, então, é preciso que se aprenda todo dia, a começar com a perspectiva do
humor sobre a realidade. E, necessariamente, também com as tristes notícias
cotidianas, para se superar a cada dia.
Assim,
a solução não é deixada para os outros. Ela ainda está sendo buscada no
aprendizado de cada dia com, para, e apesar dos outros.
Se
isso tem sentido, então o que é "ter sentido"? Questionou-me uma amiga.
A
rigor, a pergunta pelo "sentido" é, para mim, a pergunta
verdadeiramente filosófica. Penso que "ter sentido", "fazer
sentido" ou "dar sentido" é, em primeira instância, atribuir
valor de verdade a um discurso que conforma, que justifica ou se ajusta à
prática que preferimos adotar. Em última instância, consiste numa perspectiva
pela qual se fundamenta uma prática sem nos arriscarmos a perder o sentido da
vida, sem o qual a renegamos ou nos entregamos à barbárie ou à loucura, o que
seria o mesmo.
E
desde quando o discurso que conforta o subjetivo eu, deixando a solução dos
problemas do mundo intersubjetivo para os outros encararem, é salutar à sociedade
e aos homens outros? Redarguiu-me o filósofo.
Vale
pensar que o discurso que conforta o sujeito é salutar à sociedade desde quando
ele se realiza numa ação universalizável. Isto é, desde quando ele não mata o
sujeito nem o isola da sociedade.
Atribuir
valor de verdade ao sorriso e ao aprendizado cotidianos como condição para
tornar bom o dia gera uma ideia universalizável que se realiza na condição de
rir e pensar e fazer o outro rir e pensar a partir do risível, na busca de
solução com e para os outros, apesar do "status quo do Brasil atual..." Afinal, que sentido tem tentar mudar
os outros se não consigo mudar a mim mesmo?
E
o que é o sentido da vida? Insistiu nossa amiga.
Teoricamente, seguindo o mesmo raciocínio, eu diria que "o sentido da vida" é o valor de verdade que atribuímos ao nosso modo de viver.
A
consequência disso é um problema prático, que se dá quando não conseguimos mais
com a nossa prática corroborar o valor de verdade atribuído ao discurso que a sustenta.
Então, precisamos mudar de prática para dar consistência ao discurso ou mudar o
discurso para sustentar a prática. E se não conseguimos isto, qual a
consequência?
Parece
que nisto consiste a verdade da expressão: a
verdade doi. Doi quando a razão reconhece a necessidade lógica de mudar a
prática de vida, porque esta já não se sustenta no discurso.
Quero dizer: considera-se como verdadeiro aquilo que corresponde ao seu modo de viver, sem admitir que tal "verdade" diz respeito apenas a uma parte do discurso que se pretende universal; exatamente aquela parte que interessa para corroborar o modo de vida escolhido, de maneira que a generalização do discurso feita a partir da tal perspectiva não pode ser universalizada, tampouco o modo de vida correspondente.
Por isso, vale pensar para aprender a cada dia. Mas também vale sorrir para não adoecer ...