quinta-feira, 18 de agosto de 2022

RETALHOS DIALÉTICOS DE UM VOCABULÁRIO PEDAGÓGICO FILOSÓFICO

Considerando que ensinar e aprender mantém relação dialética entre si e com tudo o que diz respeito à educação e, por conseguinte, com toda relação social e com a Natureza, uma vez que não há educação sem ensino nem ensino sem aprendizado, então o que se expõe a seguir é uma teia pedagógica de retalhos dialéticos entre vocábulos organizada alfabeticamente e numericamente, conforme a tematização, visando a ensinar, num gesto de amor pedagógico, o que foi aprendido pensando, num gesto de amor filosófico; quiçá, um sumário em processo para uma Filosofia da Educação.

1.  AMAR é cuidar da preservação do ser valioso, pela qual se fortalece a relação de aperfeiçoamento do Ser.

2. BOMDADE é a condição de realização da plena liberdade de consciência, uma vez que ninguém é obrigado a ser bom, a fazer o bem, embora a vida em sociedade obrigue a não ser mau, a não fazer o mal.

3.  Embora, pedagogicamente, presuma-se o ato de ensinar como anterior ao de aprender, vale observar que, genealogicamente, o aprender é primordial, enquanto o ensinar é apenas pressuposto, uma vez que os primeiros aprendizados derivaram, certa e tão somente, da observação do aprendiz sobre o comportamento da Natureza, sem que ela tivesse qualquer intenção de ensinar. Nesses termos,

3.1.     APRENDER é, poeticamente, atuar sob nova visão ou crença; e, filosoficamente, é agir conforme uma nova percepção; assim,

2.2.     ENSINAR é, poeticamente, fazer ver, ou seja, dar nova perspectiva, fazer acreditar; mas, filosoficamente, é fazer perceber. Isto é: induzir a uma crença.

3.      Em vista da relação entre crença, fé e confiança:

3.1    CRENÇA é o ato deliberado de dar crédito ao que parece justificar a própria vida prática, coincidindo com ela por se identificar com o desejo de respeito e proteção. Ou seja: é o ato de acreditar no que lhe garante a comodidade contra aquilo que se ignora.

3.2    CONFIANÇA é o ato de dar fé à atitude de outrem baseando-se na experiência sobre a responsabilidade dele em atuar conforme suas crenças (de ambos): é uma aposta numa tendência de comportamento.

3.3    FÉ é a ratificação da ignorância: é uma aposta na mera vontade sobre aquilo que independe do sujeito para acontecer.

4.     CUIDAR é o ato de respeito e gratidão por aquilo que é valioso ao cuidador: é a responsabilidade em ato, isto é, a realização, efetivação, concretização da responsabilidade.

5. DIDÁTICA é a capacidade de uso ou criação de jogos pedagógicos com as ferramentas adequadas ao público correspondente para a tradução do aprendizado.

6.  DUVIDAR é exercitar o pensamento sobre a possibilidade de haver algo além do que aparece; epistemologicamente, é a condição de possibilidade de crítica sobre a indeterminação dos modos do ser se manifestar. Em outras palavras: é questionar porquê tem que ser tal como se apresenta.

7.  EDUCAR é, fundamentalmente, ensinar proteção e respeito: pelo fortalecimento da sociedade em vista da qual se dá o aperfeiçoamento do indivíduo, cujo aprendizado se faz pela sua autonomia ao sentir-se protegido e pelo respeito ao reconhecer-se respeitado.

7.1.   AUTONOMIA é a condição motivadora própria do sujeito para o agir conforme e em vista do aprendizado. Ou seja: é a condição pela qual o indivíduo busca e demonstra o seu aprendizado. Isto é: sem a decisão individual de querer aprender, não há como ensinar.

8.   ESCOLA é o ambiente de fortalecimento da educação.

    8.1 FORTALECIMENTO é a sensação de segurança para atuar.

9. FILOSOFIA é o discurso crítico demonstrativo com pretensões universais que se realiza no exercício de questionar e tentar responder racionalmente sobre três questões básicas  O que é? Por quê é? Para quê serve?  fundamentais para o viver entre os seres humanos e naturais como constituintes do Ser, ou seja, do real em sua totalidade. 

10.  GRATIDÃO é o reconhecimento sobre o serviço alheio ou valorização do seu esforço, através de energia contagiante que estimula reforçá-lo ou ampliar o serviço.

10.1.   INGRATIDÃO é ato de injustiça: desrespeito e falta de responsabilidade com o que lhe foi concedido.

10.2.   ENERGIA é, poeticamente, o meio pelo qual os seres se apaixonam, isto é, se afetam: ontologicamente, é o modo íntimo do ser, pelo qual os fenômenos se manifestam para além da linguagem individual; e, epistemologicamente, é a condição de possibilidade de acesso à espiritualidade.

10.3.   ESPÍRITO é a energia ignorada.

11.  HUMANO é o animal capaz de criar necessidades além da vida prática e disposto a transformar-se ou mudar o ambiente para satisfazê-las: é o modo de ser com aspiração ao aperfeiçoamento espiritual.

12.   INTENÇÃO é a motivação para agir.

13.   JOGO é o modo de criação pelo qual se possibilita a interação pelo prazer de aprender, que gera o aprendizado constante.

14.   JUSTIÇA é a correção como lição da responsabilidade. Difere da BONDADE, cujo ato é insuficiente para a devida correção; e da VINGANÇA, por cujo ato se excede a correção. 

15.   KÓNILOS é um pseudônimo grego com pretensões filosóficas de proteção ao anonimato.

16.   LIÇÃO é o conteúdo do aprendizado.

17.   LINGUAGEM é a condição de possibilidade de expressar sentimento ou pensamento.

18.   MÉRITO é a responsabilização pelos próprios atos.

19.   NOTA é a quantificação de uma avaliação que, por justiça, deve corresponder ao mérito.

19.1.  AVALIAR, pedagogicamente, é valorizar o processo de ensino, através do aprendizado: quantificando-os ou qualificando-os.

20.   OBSERVAÇÃO é a capacidade intencional para aprender; é a autonomia de busca do aprendizado. Em suma, é a atitude primordial do aprendiz.

21.   PACIÊNCIA é o respeito ao tempo alheio, sem a qual não há didática.

22.   PROTEÇÃO é a preparação para agir.

23. QUESTÃO é a tradução de uma dúvida numa pergunta. 

24.   RAZÃO é a condição de possibilidade para a universalização de compreensão do discurso sobre os seres.

25.   RESPEITO é o reconhecimento do valor do outro, sem o qual não há confiança.

26. RESPONSABILIDADE é a capacidade de responder demonstrando cuidado pelo que lhe é, merecidamente, concedido ou conquistado. Assim, 

26.1. ENSINAR RESPONSABILIDADE é fazer ver que a cada resposta dada pelo indivíduo cuidador sobre o que lhe foi concedido ou conquistado decorre o seu aperfeiçoamento e o fortalecimento da relação social pela qual ele é educado.

27. SERVIÇO é o modo pelo qual uma relação se concretiza, graças a um esforço ou em vista de uma finalidade alcançada.

28.   TRABALHO é o serviço por cuja intencionalidade o humano se distingue dos outros animais.

29.   TRADUÇÃO é, pedagogicamente, a transformação de um aprendizado em um modo de ensino.

30.   UNIVERSAL é a aspiração de compreensão comum entre os seres em qualquer tempo ou lugar.

31. UNIVERSIDADE é o ambiente institucional de aprofundamento do saber em vista dos fundamentos para uma profissionalização.

32. VALOR é o indicativo do prazer, ou da dor, numa relação.

33. VERDADE é a crença, objetivamente e racionalmente, justificada. É o pressuposto de todo discurso com pretensões educativas.

34. WILLIAM é um nome inglês por cujo jogo de letras pode-se traduzir: “eu sou desejo” de proteção.

35.   XAMIRRANHA é o pseudônimo para um nome ignorado.

36.   YUKIKO é a dúvida irônica sobre a responsabilidade: yukiko tenho com isso?

37. ZÉ NINGUÉM é o pseudônimo de quem não se presta nem pra ter nome.