domingo, 18 de março de 2012

Uma Prosa Filosófica

(Ana Carla Azevedo: aluna de Letras-UERN)  
Eu vou contar eu vou contar
Se você quiser ouvir, faz favor de escutar

Pra início de conversa
Vamos nos apresentar
Eu me chamo Ana Carla
Alcione pra juntar
Josenildo e Moisés
Pro trabalho apresentar

Ainda tem por derradeiro
O Francisco e a Vitória
Completando o nosso grupo
Que lhes conta uma história
Mas primeiro nos permitam
Relembrar a trajetória

Filosofia da linguagem
É matéria arretada
É confusa, tem mistério
Não me deixa sossegada
Com William, o Coelho
A festa ta arranjada

Meu senhor, minha senhora
Não me venham enganar
Eu sei que faz três dias
Que não param de pensar
Sem comer e sem dormir
Com o trabalho a preocupar

Friedrich L. G. Frege (08/11/1848-26/07/1925)
Mas agora se acalmem
Que já já vai terminar
Encerramos a matéria
Esse tal filosofar
E pra num perder a rima
O Frege vai começar: 

Esse menino é um vate
De mão cheia e coração
Ele pensa a palavra
Com sentido em comunhão
Com um valor de verdade
Em sua denotação

O sentido é social
O conceito predicativo
Quem denota diz um fato
Não tem nada de inventivo
Quem procura a verdade
É porque ainda tá vivo.

Esse outro é um mestre
De verdade ele entende
Representa nosso mundo
Vai a fundo e não mente
É o Wittgenstein  
Que completa o precedente
Ludwig Wittgenstein (26/04/1889-29/04/1951)

Já me diga seu doutor
Aonde vai sua linguagem
É real ou é estado
De coisa sem ter passagem
Ou é a totalidade
De um rio sem a margem?

O que penso tem a lógica
De uma proposição
Forma interna mais externa
Torna válida a ação
Assim como um fato existe
Com sua denotação

O Filósofo questiona
O poeta é sonhador
Mas me diga sem demora
Como é que pode Seu doutor?
O que a linguagem exprime
Não expressa minha dor.

Esse mesmo seu menino
Causa uma reviravolta
Aquilo que não se fala
Não deve causar revolta
A linguagem é um espelho
Tem uma ida e uma volta

Cada um tem seu falar
Com significação
A letra só tem sentido
Quando toma a ação
Já começo a entender
A partir da descrição

Joga quem joga o jogo
Ganhador ou perdedor
O grande intelectual
Tem que ser bom jogador
Ter a ingenuidade
Para ser o vencedor

Esse jovem de agora
Que por certo eu vou mostrar
John L. Austin (28/03/1911-08/02/1960)
É o chamado John Austin 
E seus atos de falar
E um tal de locutório
Que me faz enunciar

Nem toda a sentença
É correto ajuizar
Positiva ou negativa
Era só pra declarar
Mas o ato é plural
Pra dimensionalizar


Se eu contar,vou ordenar
Avisar e criticar
Esse tal ilocutório
É difícil de mandar
Mas convido a vocês
Sem ter de ameaçar

Sem ter de ameaçar
Esse povo ou nação
Faço o convencimento
Sem precisar ler a mão
Perlocutando o alocutário
Usando persuasão

John Searle (31/07/1932)
Esse outro professor
Que também vou discorrer
É de mesmo nome John
E de mesmo proceder
Os atos de locução
Searle pôde perceber 
Classificou e dividiu
Tudo aquilo que enuncia
Assertivo, diretivo
Expressivo, já sabia
Declara e compromete
O que o homem já fazia

Porque tudo o que digo
Trás também uma intenção
Trás a força marcadora
Que diz que a situação
Do mundo em que eu vivo
É fonte de inspiração

O discurso é singular
Reconhece o falante
Se é falso, se é verdade
Se inútil, ou importante
Martin Heidegger (26/09/1889-26/05/1976)
O que digo, realizo
Eu sou mesmo performante

Como Heidegger dizia 
Sobre o ser-situação
A linguagem realiza
O humano na ação
É a sua epifania
Sua manifestação

A palavra é o que sustenta
O ser na evolução
O falar original
É de grande relação
E a linguagem derivada
É de grande comunhão

Eu percebo e respondo
Isso é existencial
Toda fala anunciada
É resposta para tal
E a minha servidão
Me liberta afinal

Se você tiver cansado
Agüente mais um instante
Para gente finalizar
Habermas vem adiante 
Explicando a pragmática
Universalizante

Jurgen Habermas (18/06/1929)
O que é Universal?
Já pensou nesse porém?
Aquilo que abarca tudo
Que todo mundo tem
E também o que é comum
Que vai sempre mais além

A teoria da ação
Comunica o pretexto
Cada falante é ativo
Dentro do próprio contexto
A sentença realiza
E se transforma num texto

Só consigo entender

O parceiro de conversa
Quando chega a um consenso
Do causo e da promessa
Do nível dos objetos
Sem nenhum ter muita pressa

Se concebe verdadeiro
Quando assim o predicado
Se aplica ao objeto
Ora antes indicado
E o tema do real
Lhe dá o certificado

O conceito de razão
Antes tão enclausurado
Pelo termo científico
De uso determinado
Transcende seu valor
Agora transformado

E pra fechar esse discurso
Fonte de multiplicação
Digo que o ponto x
Da nossa apresentação
Não é a linguagem em si
Mas sua utilização.
Som da Linguagem

Por vezes reaprendo 

o som inesquecível da linguagem 

Há muito desligadas 
formam frases instáveis as palavras 
Aos excessos do céu cede o silêncio 
as constelações caem vitimadas 
pelo eco da fala 

Gastão Cruz, in "Campânula

Um comentário:

Anônimo disse...

Ficou muito bom!!! Parabéns a autora pelo brilhante trabalho. Abraços Ângela R Gurgel