sexta-feira, 29 de março de 2013

De Rotatória e Racionalidade

Ultimamente tenho me ocupado em pensar a realidade do trânsito urbano de veículos, por uma razão que interessa à Filosofia: o trânsito é o âmbito próprio da pura linguagem de sinais; por isso, a maior expressão da racionalidade urbana, ou seja, moderna.

Há algum tempo apresentei ao então Prefeito Ricardo Coutinho uma proposta para o trânsito da cidade de João Pessoa, que aos poucos vejo-a sendo implantada. Recentemente apresentei ao DNIT de Mossoró-RN algumas reflexões sobre a Rotatória do Km 46 da BR 110 com a Av. Leste-Oeste. Mas o argumento da autoridade descartou a autoridade do argumento.
Obs.: fila do lado sul da rotatória atrapalhando até
quem não precisaria cruzá-la, saída da Leste-Oeste
no sentido Centro-UFERSA

É que, conforme reza o Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.053/1997), no seu Art. 29, inciso III, alínea b: “no caso de rotatória, aquele que estiver circulando por ela” tem a preferência. Isso segue um princípio geométrico simples: o círculo é a figura perfeita, pois não tem começo nem fim. Por isso também é mais democrático: nele, todos têm sua vez, desde que ninguém se aposse dele. Graças a isso é que mundialmente se tem preferido rotatórias a semáforos, pois elas seguem o bom senso, permitindo melhor fluidez do trânsito. Por que só em Mossoró tem que ser diferente? E pior: o diferente está errado, uma vez que causa maior transtorno.
Presumo que dar a preferência à BR 110 nesse trecho deva-se ao fato de ser pista de rodagem rápida e trânsito mais intenso que o da Leste-Oeste. Entretanto, a rodagem rápida pode e deve ser coibida em trecho urbano; como é o caso, no bairro popular e entre duas universidades: a UFERSA e a UERN e no trajeto para o IFRN.
Quanto ao trânsito mais intenso, contudo, ele não permanece todo na BR. Certamente, quase metade dele sai da BR para a Leste-Oeste, em direção ao Centro ou à UERN. Do mesmo modo o que sai da Leste-Oeste entra na BR, em direção a Areia Branca ou à UFERSA. Vale lembrar que os nossos condutores de veículos motorizados não são educados para sinalizar a direção que darão ao veículo. Valem-se apenas da lei do mais forte: de carreta para ônibus, de ônibus para caminhonete, desta para carro, deste para moto, e de moto para bicicleta ou pedestre, a quem falta respeito, inclusive, pela ausência de uma faixa para atravessar com segurança as quatro vias.
Então, basta observar o transtorno quando vários carros vindos da UFERSA vão entrar para o Centro. Eles têm a preferência na BR, mas não na rotatória. Daí decorrem filas atrapalhando os que vão cruzá-la em direção a Areia Branca ou dos que vão da UERN ao Centro ou à UFERSA. E isso piora quando tem carreta ou ônibus nessa fila, para ninguém mais passar ou até causar acidente. Vale lembrar que tanto UERN quanto UFERSA dispõem de vários ônibus de estudantes nos horários de pico universitário.
Obs.: fila tripla no lado norte estendendo-se até a BR
e lado sul da rotatória: cobra engolindo o próprio rabo
Além disso, acrescente-se mais carros, caminhonetes, ônibus e carreta ou caminhão que trafeguem na BR (sentido Norte a Leste), dos Pintos ou Areia Branca em direção à UERN. Eles também têm a preferência da BR. No entanto, perdem-na ao entrarem na rotatória. Disso derivando filas que bloqueiam as filas provindas do lado Sul a Oeste e vice-versa (UFERSA ao Centro) parecendo cobra engolindo o próprio rabo. Resultado: engarrafamento, estresse e prováveis acidentes, com prejuízos incalculáveis. Isso porque nem existe pista alternativa. 
Ora, por que não retirar as placas R-2 de DÊ A PREFERÊNCIA postas no centro da rotatória e transferi-las para a confluência com a BR Sul (UFERSA) e com a BR Norte (Pintos)? Além disso, seria necessário apenas que se acrescentem em cada entrada da BR na rotatória os sinalizadores horizontais refletivos e em relevo (chamados tartaruga), ou lombadas, assim como faixa de pedestres, educando-os à redução de velocidade. Os acessos da Leste-Oeste à rotatória, contudo, devem permanecer com a placa R-1 de PARE. 
Obs.: trecho livre no norte da rotatória, porém atrapalhado
pela fila do lado sul.
Isso possibilitaria a democratização do trânsito na rotatória, principalmente nos horários de pico universitários (em torno das 7h, 10:30h, 13h, 17:30h, 19h e 22h). Permitirá, inclusive, que a rotatória seja usada como retorno para quem sai do campus Leste da UFERSA e quer dirigir-se ao lado Sul, sem atrapalhar o trânsito. Ou sai da UERN e quer retornar para a ADUERN. Ou do Restaurante Tenda e quer dirigir-se a Areia Branca. Do mesmo modo para quem vem do Centro e quer entrar na Repete, em cuja direção há placa recomendando fazer a rotatória. Entretanto, até a Polícia tem sido flagrada em ato de direção imprudente, para não ter que parar três vezes em tão curto trecho: no final da Leste-Oeste para cruzar a BR; depois no giradouro; e após girar a rotatória, para sair dela retornando à Repete. 
Vale observar que as regras do trânsito precisam não apenas obrigar o motorista, mas principalmente educá-lo a fazer o correto, já que, infelizmente, as autoescolas apenas adestram para o teste de aquisição da carteira. Pois, quem deve educar para a racionalidade do trânsito se não for racional e democraticamente educado? A quem recorrer se a autoridade pública não dá o devido respeito à questão? Não caberia pressão da imprensa mossoroense a cumprir seu papel democrático de quarto poder republicano? Seria necessário um abaixo-assinado pelos usuários do circuito, entre membros da UERN, UFERSA e IFRN? Quiçá, um projeto de pesquisa e extensão com alunos e professores do Curso de Comunicação da UERN nos dê tal poder!

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