(PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DO AMOR)
Ao lembrar o tempo da saudade das minhas filhas crescendo, relembrei o banquinho que projetei no jardim, como lugar de namoro que elas nem perceberam e que meu pai estranhou porque, à época, a minha princesa só tinha dois aninhos. Então, antecipando-me à saudade do que eu ainda não vivera, pensei na que eu reviveria quando minhas filhas assumissem suas vidas e eu desejasse netos. Mas não era saudade. Era esperança. E, enfim, ela chegou: esperança misturada à saudade renovando o amor.
Ao lembrar o tempo da saudade das minhas filhas crescendo, relembrei o banquinho que projetei no jardim, como lugar de namoro que elas nem perceberam e que meu pai estranhou porque, à época, a minha princesa só tinha dois aninhos. Então, antecipando-me à saudade do que eu ainda não vivera, pensei na que eu reviveria quando minhas filhas assumissem suas vidas e eu desejasse netos. Mas não era saudade. Era esperança. E, enfim, ela chegou: esperança misturada à saudade renovando o amor.
Saudade das filhas crianças revivida na neta que realiza a esperança.

Mas, como? Já nem tenho mais tal direito. Embora ainda tenha o dever de guiar minha filha na criação da minha neta. O dever, contudo, não é uma obrigação, pois não é um imperativo legal nem físico. É apenas uma responsabilidade derivada da consciência de que filha e neta carecem de cuidados. O direito, porém, é uma conquista ou uma concessão, tal como o amor é conquistado ou concedido.
Costuma-se perguntar se o amor pelos netos é duplicado. Respondo que não. Pois não sei calcular o amor. Apenas sinto-o renovado: o amor à filha se renova com a neta, conforme a convivência. E não o concebo sem isto: participação. Nele há concessão e conquista.

Não. Dobrado é o cuidado, porque há mais a participar com a filha e também com a neta; há mais a tornar-se parte delas como amadas e delas em mim como amante. O amor, no entanto, é apenas renovado, ou seja, revitalizado pela graça de ser reconhecido e aceito: valorizado, pela conquista e pela concessão.

Eis que surge um dilema lógico entre conquista e concessão; entre amor e cuidado. E desconfio que se há dilema é porque a relação não é lógica, mas dialética, cuja superação exige um terceiro elemento.
Como superar a dialética entre o amor e o cuidado, que se completam como ato e potência, mas não são a mesma coisa?
O que é o cuidado se não a realização do amor? O que é o amor se não o desejo de cuidar do outro? Como medir o cuidado para que ele não desvirtue ou perverta o amor? Se o cuidado é o critério do amor, qual o critério do cuidado se não o respeito? Como é possível conquistar o amor do outro sem o respeitar? Por que não se valoriza o amor recebido ou doado em demasia, se não devido à falta de respeito para com o outro ou para consigo mesmo?
Mas, o que é o respeito se não o reconhecimento do valor do outro? E em que consiste o valor do Outro se não no fato de que ele não é um objeto de posse, mas um sujeito de desejos e de liberdade, embora limitada, capaz de decidir conquistar direitos e doar-se em dever, se conquistado? E como conquistá-lo se não pelo cuidado e pelo respeito, pelos quais se reconhecerá a dimensão do amor?

Eis o aprendizado que espero vivenciar com minha neta, para que o amor se renove nela, pela saudade do que vivemos - eu com meus pais e, depois, com minhas filhas e com ela -, e pela esperança do que elas hão de viver se renovando em gerações.