sábado, 18 de outubro de 2014

"TANTO FAZ" NÃO

Tanto faz Dilma ou Aécio para presidente do Brasil em 2015? Tanto faz PT ou PSDB no poder? Duvido. 
Não defendo Dilma em causa própria. E se fosse questão de "tanto faz" eu nem estaria discutindo nesse segundo turno, uma vez que nem votei nela no primeiro. Sinceramente, tenho sérias críticas ao seu governo. Inclusive, por ela estar cogitando sobre uma proposta que fere diretamente a minha profissão. Mas entendo que, parafraseando Lula em resposta a Antônio Cândido, o Brasil é maior do que a profissão de Professor de Filosofia ou de Sociologia. 

Contudo, a Educação depende disso, para não robotizar o cidadão. O sociólogo FHC, no entanto, vetou a lei que o dito “analfabeto” Lula aprovaria e agora a economista parece querer rediscuti-la. Mas isso pode ser discutido, de fato, tendo em vista inclusive o emprego ou desemprego gerado entre diplomados nessa área. Tal discussão não foi possível com FHC. Duvido que o seja com Aécio.
Nem pretendo mudar o voto classista convicto ou de qualquer outro. Apenas tento expor algumas questões que lhes façam pensar se vale a pena tal convicção. Quais as consequências do seu voto? E qual a causa dessa convicção? São valores seus ou lhe impostos? Por quem? A quem servem os interesses de tal imposição ou omissão ou ignorância? 

Essa geração jovem tem todo o direito de querer algo melhor do que o que está vivenciando. Mas também tem o dever de analisar pelo menos a história recente do nosso país. Como diz o poeta Renato Russo, "o futuro não é mais como era antigamente". Sua geração pode não ter consciência disso, mas os registros estão à disposição na internet. 

Na sua infância você pode ter tido outra impressão da vida política da sua cidade, do seu estado, do nosso país; mas, através de quem? Quais informações lhe foram ofertadas e quais lhe foram omitidas? 
Eu também cresci ouvindo meus pais e parentes defendendo a oligarquia Alves, apesar de nunca terem sido diretamente beneficiados por ela. Eles apenas pareciam ter consciência do que tantos outros sofreram nos governos da oligarquia Mariz e Maia, cuja covardia culminou no apoio à ditadura militar de 1964 a 1984.
Então, aprendi a me perguntar o que essas famílias fizeram para o povo do nosso Rio Grande do Norte. Afinal, por que hoje se uniram Maia e Alves, depois de décadas se digladiando? 
Se ao defender uma oligarquia o sujeito apresentar apenas benefícios próprios, então sua visão política não é racionalmente defensável, pois não é universalizável. Equivaleria a qualquer outra defesa que lhe contrapusesse outros interesses próprios, como sempre fizeram os oligarcas ou seus capachos. Até seria compreensível, porém faltaria justiça para universalizá-la ou justificá-la até mesmo de modo cristão, se me permitem apelar ao fundamento religioso da nossa cultura ocidental.
O mesmo se dá no âmbito nacional entre PT e PSDB. Porém, com grande diferença de práticas políticas: se no RN eram duas oligarquias de direita se digladiando pelo voto do povo para enriquecerem cada vez mais suas famílias e comparsas, isso está bem representado pelo governo PSDB. Observe em todo o Brasil quem foi beneficiado por ele, seguindo o lema do presidente Costa e Silva: "tornar o rico mais rico para ajudar o pobre". Examine a história e verá que isso sempre ocorreu. Mas, era necessário? 

Por outro lado, desde 2003 o PT "provou que é possível crescimento econômico com distribuição de renda", como bem disse o ex-ministro do PSDB, Ciro Gomes. Isso porque, até o governo do PSDB, todo discurso econômico era "primeiro fazer o bolo crescer, para depois distribuir". Em que isso difere da frase de Costa e Silva? E quando houve distribuição de riqueza, apesar do dito milagre brasileiro no início da década de 1970 ou do controle da inflação na década de 90? Por que pessoas têm que ser condenadas à miséria enquanto algumas acumulam riqueza que jamais gastarão?
Diz o grego Aristóteles (séc. IV a.C.) que a família se forma para garantir a sobrevivência da espécie; dela se formam aldeias para garantir a sobrevivência do indivíduo; mas o Estado (polis) se forma para garantir a boa vida de todos. Como pode em pleno século XXI ainda existir milhares de pessoas que não têm direito sequer à sobrevivência? Esse direito à cidadania foi dado a 36 milhões de pessoas nos últimos 12 anos no Brasil. Coisa que nenhum governo anterior teve o cuidado de fazer, em 110 anos de República. 
Então, para mim, não é questão de "tanto faz". Como disse o sociólogo Betinho, "quem tem fome tem pressa"; assim como quem precisa de médico. Felizmente, sabemos que essa visão anti-PT não é unânime entre os médicos, pois já há manifesto deles pró-Dilma e contra Aécio. Assim como há de economistas, ou seja, manipuladores do dinheiro, e de jornalistas, manipuladores da opinião. Observe o que disse o prêmio Nobel de Economia sobre o Brasil que reduziu a miséria e a fome. 
Por que é tão difícil ver essas diferenças de apenas uma geração? Os escândalos não são argumento, uma vez que os opositores também tiveram suas falcatruas, com uma diferença: eram acobertados pela mídia e pela elite que faz o poder judiciário. E pior: seus desvios sempre foram em benefício próprio ou de poderosos, como o senador Demóstenes Torres, o bicheiro Carlinhos Cachoeira, o governador José Serra & cia do PSDBesta  e do DEMo .
No caso do mensalão do PT, o desvio foi para aprovar leis em benefício do povo, como a do PAC, para duplicação da BR-101, ferrovia Norte-Nordeste, portos, transposição das águas do rio São Francisco e habitação popular, coisas que não interessam à elite. E isso devido à própria estrutura política do Legislativo viciado em propina, cujos corruptos se diziam "aliados do Governo". Mas viciados desde quando, se o governo do PT é recente?
Desconfio, portanto, que tamanha cegueira seja imposta pelo ódio da elite, através do seu exército midiático e dos manipuladores do dinheiro, devido à repartição da riqueza com quem só tinha direito à sobrevivência. Daí a ignorância de quem não faz parte da classe. Disso decorre a recusa a pensar, pois, como diz o poeta, "tá tudo aí, para quem quiser ver" (Chico Anísio e Arnaud Rodrigues). 

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