domingo, 26 de abril de 2020

ACORDA, SALINHO!

Se eu pudesse, eu pediria a Deus
Que o hoje não fosse hoje
E como o hoje
Os amanhãs também não acontecessem  assim

Mas, agora
Eu só queria era poder dormir, dormir, dormir ...
Dormir num sono bem profundo
Sono de nem sonhar
E se eu tivesse mesmo que acordar para esse mundo
Fosse com você me despertando
Chamando o meu nome
Como sempre no diminutivo
Com o seu peculiar carinho
Renitente em seus motivos
Como incentivo para que eu me visse grande
Forte, capaz, poético, feliz, competitivo...
E continuasse alegremente o caminhar

Entretanto, é outra a realidade
Acorde-me dela, por favor!
Ainda creio que estou dormindo
Acorde-me falando
Que tudo não passou
De uma grande e tola brincadeira
Que você simulou
Só para nos ver sorrindo
E que é mais tola ainda
E desnecessário esse vazio
E essa angústia que estão me consumindo
Nesta ardente e tão silenciosa dor


Desperta-me!
E me surpreenda com mais uma nova viagem
Para todos nós ficarmos juntos
E nos alegrarmos em um bom lugar
Não numa viagem triste
Como essa em que você se foi sozinho
Tão subitamente
Como disse Thailla:
"Sem nada explicar"

Venha me sacolejar
Com a mais nova piada
Como as tantas que você inventava de repente
Só pelo prazer urgente de nos ver gargalhar
Só para alegrar o ambiente
Como aquela de empurrar no açude a meninada
De arriscar entre primos uma cavalgada
Só pra perder o medo
De aprender a nadar e a cavalgar

Cadê você, cunhado, amigão?
Paizão, palhação, tiozão, sogrão, vozão, maridão...
Cadê você, atleta, incentivador, rei da saúde, inveterado?
Naldinho, Naldão

Você foi demais sendo bom
Demais para todos nós
Muito amiúde
Quero acreditar
Que você se foi sutil
Para que, o que você fez por todos nós
Por todo esse tempo a fio
Não nos desse tempo de pagar

Certamente que tudo que você construiu
Em sua exímia engenharia de vida
Você esqueceu de calcular
O peso da saudade na sua ida
A falta da louca alegria,
E o legado
Que sobre nossas almas tão feridas
Iriam desabar

Agora
O que nos resta mesmo é a resiliência
É aceitar
Seguir-lhe ouvindo na lembrança assobiar
Constantemente Caetano:
"um amor assim delicado..."
E cumprirmos a missão de compartilhar
O tamanho do seu coração assim tão demasiado
De imensa alegria e intenso cuidado
Humanidade que não coube em si

Resta-nos, então, ir ao bom Criador
Onde todo dissabor se refugia
Onde toda misericórdia se faz
Pedir que nos oportunize um encontro um dia
Em um lugar eterno de alegria e paz,
Sem saudades, sem dor.

SALES DE OLIVEIRA (26/04/2020).

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