domingo, 20 de março de 2011

Muitas Perguntas e Poucas Respostas


O que fazer quando tudo parece tão confuso... quando os sentimentos nos confundem e não temos a quem recorrer? Por que somos tão complicados? 


Não precisamos ser complicados.
Nem devemos deixar os sentimentos nos confundirem.
Quando as coisas nos parecem confusas, nós precisamos identificar o valor de cada uma delas para nós:
Quais tem valor permanente? 
Quais tem valor passageiro? Por que elas valem tanto?
Elas valem, de fato, para nós? Ou valem apenas para alguém que quer nos dominar através delas?
Vale a pena continuar valorizando-as por alguém, e não por nós mesmos?


As vezes nos apegamos a alguém sem pensar se realmente tem sentido algumas coisas que fazemos. É preciso identificar alguns valores para depois se arriscar. 
Você poderia me explicar o que realmente é REAL, se é que existe algo real nesse mundo? 
E a VERDADE? Só a gente pode identificar? Ou isso passa despercebido? 
A verdade da qual falo é sobre o sistema social e psíquico. 
Tem algumas tecnicas para o questionamento? Como não se sentir pequeno diante de alguém? 
São muitas as perguntas para poucas respostas.

A provocação agora salta do campo clínico, da angústia existencial, para o âmbito propriamente filosófico.

...Infelizmente, não apenas "as vezes nos apegamos a alguém sem pensar...", mas sim, geralmente fazemos isto.
É nesse sentido que alguns filósofos e a grande maioria das pessoas entendem a paixão como uma desrazão.
E é. Mas, não por negação; e sim por distanciamento. Porém, não precisa sê-lo. A razão pode e deve examinar aquilo que desperta uma paixão: os valores.
Isto não é fácil, claro: "parar para pensar..."; mas é bom; é saudável.
E, como tudo o que é saudável, exige exercício e inclusive ajuda externa, até que se esteja seguro, disciplinado.
Pois, não é a razão quem decide. Ela apenas examina as origens e avalia as consequências.
Quem decide, realmente, é a sensação, os sentidos, os sentimentos, as emoções; enfim, a paixão.
Ora, na realidade, as coisas existem independentemente de nós, sujeitos pensantes. Elas estão fora do nosso pensamento.
No entanto, elas só tem sentido para nós, em relação conosco, quando as percebemos, por isso as pensamos.
Por isto o real é aquilo cuja existência é apreendida e explicada, objetivamente, pela universalidade da razão; não apenas pelo pensamento particular, subjetivo, de um indivíduo.
Por conseguinte, a verdade é a objetividade que o discurso explicita de uma coisa. 
Ora, claro que tal objetividade depende da percepção do sujeito e de suas crenças e intenções. 
Mas, as crenças podem ser refutadas e as intenções devem ser avaliadas.
Em sendo assim, o que é dito, falado, comunicado, expressado em discurso, tem que ser percebido, isto é, apreendido, captado pelos sentidos.
Mas, se os sentidos não forem treinados, aperfeiçoados pela razão, como perceber as coisas e a verdade sobre elas?
Quero dizer que o seu discurso denota a perspectiva subjetivista: "só a gente pode identificar?". Sim, claro! Se o sujeito não identifica a coisa, então ela "passa despercebida", como não tendo existência para ele. No entanto, não significa que ela não exista, visto que outros a percebem. Portanto, talvez sua percepção não esteja treinada para "identificar" tal coisa; como quando ouvimos alguém falar em outra língua e não conseguimos identificar o que é dito porque nossos ouvidos não estão treinados para tal. 
Nesses termos, a verdade "do sistema social" só pode aparecer pela percepção das relações sociais efetivas: instituições, regras, crenças comuns e os valores que as sustentam. 
No âmbito do "psíquico" ela exige a relação entre os valores, as crenças e o comportamento pessoal.
As crenças transparecem no discurso, e os valores no comportamento. Mas são estes que dão sustentação àquelas. Então, como se relacionam?
Eis a questão!
Se há "algumas tecnicas para o questionamento?" Não creio. Ou desconheço. Ignoro. 
Mas há um princípio: é querer saber. E para quê? Para viver melhor, simplesmente. Pois, parafraseando O Rappa: "Perguntar por que, eu não vou fazer (...) Será que é necessário estudar..." Estudar pra quê? Como observou o meu amigo Rubens: ...Só pra morrer sabido?
De fato, se a busca do saber não servir para se viver melhor, como um aperfeiçoamento da humanidade pelo sujeito, ou seja, na relação do indivíduo com os outros, que perfazem a tal humanidade, então, infelizmente, tal saber só serve para morrer sabido. E por que se tem que morrer sabido? 
Daí, para "não se sentir pequeno diante de alguém" é preciso saber do seu próprio tamanho e do outro.
Mas que sentido há nessa diferença de tamanho? Para que ela serve?
Talvez o problema não esteja nela, mas em quem a provoca: você ou o outro? E por quê? Para quê? É necessário focalizá-la?
Como você bem disse, "são muitas questões e poucas respostas". 
Vale observar, contudo, que as questões qualquer pessoa pode fazer, por isso são tantas: no entanto, elas humanizam quem as faz.
As respostas sobre a própria vida, entretanto, só o próprio sujeito pode dar-se.
Pois, que valor teria uma verdade que eu lhe desse sem que você soubesse o que fazer com ela?

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