Tenho dito que nossas crianças acreditam que pela autoridade de pais teríamos também a autoridade de “sábios”. E nós nos valemos disso. Dificilmente conseguimos descer do pedestal de autoridade que elas nos proporcionam. Contudo, ele se torna tanto mais alto quanto mais certezas colocamos em nossas respostas. E quando os filhos, no seu saber infantil, questionam nossas certezas, geralmente os corrigimos dizendo: Isto não é pergunta pra criança! Ou: Ainda não chegou o seu momento de saber disso! Ou até mesmo: Eu sou seu pai! Como se disséssemos: quem sabe, aqui, sou eu, você não tem que duvidar; só obedecer.
Entretanto, não percebemos que quanto mais alto o pedestal de autoridade paterna, maior a distância entre pais e filhos. Daí, como eles podem constatar o nosso ensinamento? A quem eles podem recorrer? Restam-lhes os colegas da rua, que lá estão com as mesmas dúvidas, porque certamente já sofreram o mesmo distanciamento sob o pedestal de seus pais. Então, a fome de saber os coloca à mercê dos mais velhos, mais experientes. E agora?! Que fazer? A quem reclamar a educação dos nossos filhos? À Escola? E quanto à educação dos pais?
O papel da Escola não é a educação prática da vida. A Escola nos prepara para a vida teórica: os conceitos, os nomes corretos das coisas, a classificação dos seres, o conhecimento da Natureza, a explicação dos fenômenos do mundo, os modos corretos dos usos da língua que falamos, os modos de quantificar coisas, aumentar, distribuir etc. Em suma, prepara-nos para atividades técnicas, profissionais. No entanto, as pessoas vivem independentemente desse saber teórico. ...Por vezes até, possuir tal saber não significa viver melhor do que quem possui apenas o saber prático, o saber da boa relação com os outros, da responsabilidade com o mundo.
Assim, talvez seja um tributo muito alto atribuir aos pais a responsabilidade pela má educação dos filhos. Mas, considerando o princípio segundo o qual conhecer é poder, o pai, que de antemão conhece mais que o filho, sobre este ele tem poder de ensino. Ora, quem tem o poder tem também a responsabilidade sobre a educação. Em outras palavras: quem detém mais saber detém também a responsabilidade do educar.

Então, estamos sós: só nós pais e nossos filhos. A quem podemos reclamar tal educação integral? Como integralizar a educação prática da família com a educação teórica da Escola, se algumas famílias sequer têm noção da responsabilidade dos pais na educação? Afinal, se a educação dos filhos está ruim, deve-se à má educação dos pais. Ora, reclamamos aos pais a falta de educação dos filhos, mas a quem reclamar a falta de educação dos pais, como cidadãos? Eis uma questão política disfarçada de ética.