quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Gratidão a Platão

Este testemunho não é de tristeza. É de gratidão.
2016 foi um ano de perda para muita gente. Principalmente para o Povo brasileiro.
Mas também foi um ano de luta intensa e ostensiva. Por isto há gratidão. A luta deve continuar.
Para não testemunhar tristeza não enunciarei as perdas. Não quero dor. Quero a lição.
Que a dor da perda fique no passado! Mais futuro tem a lição no presente.
Para tanto registro dois presentes de aniversário; aliás, 3 que se relacionam:
Nitxe (grafado abrasileirado para não ferir os discípulos do filósofo), que ganhei da minha irmã Nalva, desde julho, para o meu aniversário em dezembro, cujo intento era fazer companhia à bem aventurada Luna, netinha que ganhei em janeiro de 2015.
Pretendia-se também que Nitxe fizesse companhia a Platão, presente que ganhei do meu irmão Sales, em 2005. Com 11 anos, Platão já ultrapassara as expectativas de vida de um Labrador. Pareceu-me interessante gratificar-lhe com a companhia que eu não podia lhe dispor.
No entanto, a energia pueril de Nitxe, querendo brincar o tempo todo, parecia a Platão um desrespeito. O velho não se animou com o novo, mas o respeitou.
Luna também não se interessou por Nitxe. Talvez pelo mesmo motivo de Platão: desrespeito - ele a lambuzou toda e a arranhou; além da falta de domínio, claro!
Por conta disso perdi meu presente: devolvi-o. Ele não cumpria o intento do qual ele nem fora avisado. E por falta de respeito ao seu tempo, ele foi rejeitado. Aliás, nenhum dos três sabia da intenção. Por isso, para não mudar os outros com o meu desejo, mudei o meu desejo.
Curiosamente, ao perder Nitxe, devolvendo-o em 28 de novembro, perdi também Platão, que saiu para suas oferendas vespertinas ao redor da igreja Santo Antônio, do Jardim Cidade Universitária, em João Pessoa, e não retornou.
Ele costumava fazer esse passeio diariamente, sozinho. Mas acredito que ele preferia fazê-lo comigo; inclusive com Nitxe. Pois, apesar dos insistentes saltos de Nitxe sobre ele, durante o passeio ele não reclamava. Antes ele também já havia prolongado esse passeio por duas ou três noites, quando encontrava alguma namorada dos outros, que o preferia, por cujo porte atlético lhe permitia furar a fila. Ele retornava arrasado, mas feliz. Porém, desta vez, sua demora não pode ser por causa de um cio: ninguém na idade dele aguentaria um mes de fila em fila. Além do quê, seria avistado pelas ruas ou noticiado em blog ou páginas Amigos dos Animais, no Facebook. Procurou-se por ele nessas páginas e nas ruas por onde ele passeava. Mas, nada. Perdi-o também. Desconfio até que ele apenas fingia não gostar de Nitxe, talvez por ciúme, sem entender a verdadeira finalidade. Por isso ele preferira não retornar, pra não se sentir sozinho novamente.
Então, fica-me o consolo na ideia de que "notícia ruim chega logo". Assim, se nada nos chegou é porque nada de ruim lhe aconteceu.
Prefiro pensar que se ele não retornou até agora é porque está em boa companhia. Quem o pegou deve ter percebido que ele é um idoso e presumido que estaria abandonado. Quem acolhe um idoso supostamente abandonado, certamente o faz para lhe dar o melhor de si em seus últimos dias. Então, sou-lhe grato por isto!
Poupou-me, inclusive, da dor de assistir à sua morte, presumivelmente em breve. Não vi a sua partida, tampouco a sua chegada. Então valho-me da alegria do grandioso presente vivo, vívido, vivido.
Agradeço a Sales pelos 11 anos de boa companhia, tal como seria a dele próprio.
Agradeço a Nalva e a Ivanaldo por me fazerem sentir-me amado através de tão valioso presente, a quem peço desculpas por não ter sido digno dele.
E agradeço a quem acolheu o meu Platão! Que ele permita a tal pessoa realizar o mais que humano em nós, tal como o fez comigo.
Beijos de gratidão!

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