Considerando que ensinar e aprender mantém relação dialética entre si e com tudo o que diz respeito à educação e, por conseguinte, com toda relação social e com a Natureza, uma vez que não há educação sem ensino nem ensino sem aprendizado, então o que se expõe a seguir é uma teia pedagógica de retalhos dialéticos entre vocábulos organizada alfabeticamente e numericamente, conforme a tematização, visando a ensinar, num gesto de amor pedagógico, o que foi aprendido pensando, num gesto de amor filosófico; quiçá, um sumário em processo para uma Filosofia da Educação.
1. AMAR é cuidar da preservação
do ser valioso, pela qual se fortalece a relação de aperfeiçoamento do Ser.
2. BOMDADE é a condição de realização da plena liberdade de consciência, uma vez que ninguém é obrigado a ser bom, a fazer o bem, embora a vida em sociedade obrigue a não ser mau, a não fazer o mal.
3. Embora, pedagogicamente,
presuma-se o ato de ensinar como anterior ao de aprender, vale observar que,
genealogicamente, o aprender é primordial, enquanto o ensinar é apenas
pressuposto, uma vez que os primeiros aprendizados derivaram, certa e tão
somente, da observação do aprendiz sobre o comportamento da Natureza, sem que
ela tivesse qualquer intenção de ensinar. Nesses termos,
3.1.
APRENDER é, poeticamente,
atuar sob nova visão ou crença; e, filosoficamente, é agir conforme uma nova
percepção; assim,
2.2.
ENSINAR é, poeticamente,
fazer ver, ou seja, dar nova perspectiva, fazer acreditar; mas, filosoficamente, é fazer perceber. Isto é: induzir a uma crença.
3. Em vista da relação entre crença, fé e confiança:
3.1 CRENÇA é o ato deliberado de dar crédito ao que parece
justificar a própria vida prática, coincidindo com ela por se identificar com o
desejo de respeito e proteção. Ou seja: é o ato de acreditar no que lhe garante
a comodidade contra aquilo que se ignora.
3.2 CONFIANÇA é o ato de dar fé à atitude de outrem baseando-se
na experiência sobre a responsabilidade dele em atuar conforme suas crenças (de
ambos): é uma aposta numa tendência de comportamento.
3.3 FÉ é a ratificação da ignorância: é uma aposta na mera vontade sobre
aquilo que independe do sujeito para acontecer.
4. CUIDAR é o ato de respeito e gratidão por aquilo que é valioso ao cuidador:
é a responsabilidade em ato, isto é, a realização, efetivação, concretização da
responsabilidade.
5. DIDÁTICA é a capacidade de uso ou criação de jogos pedagógicos com as ferramentas adequadas ao público correspondente para a tradução do aprendizado.
6. DUVIDAR é exercitar o pensamento
sobre a possibilidade de haver algo além do que aparece; epistemologicamente, é a condição de possibilidade de crítica sobre a indeterminação dos modos do ser se manifestar. Em outras palavras: é questionar porquê
tem que ser tal como se apresenta.
7. EDUCAR é, fundamentalmente, ensinar proteção e respeito: pelo
fortalecimento da sociedade em vista da qual se dá o aperfeiçoamento do
indivíduo, cujo aprendizado se faz pela sua autonomia ao sentir-se protegido e
pelo respeito ao reconhecer-se respeitado.
7.1.
AUTONOMIA é a condição
motivadora própria do sujeito para o agir conforme e em vista do aprendizado. Ou seja: é a
condição pela qual o indivíduo busca e demonstra o seu aprendizado. Isto é: sem
a decisão individual de querer aprender, não há como ensinar.
8. ESCOLA é o ambiente de fortalecimento da educação.
8.1 FORTALECIMENTO é a sensação de segurança para atuar.
9. FILOSOFIA é o discurso crítico demonstrativo com pretensões universais que se realiza no exercício de questionar e tentar responder racionalmente sobre três questões básicas – O que é? Por quê é? Para quê serve? – fundamentais para o viver entre os seres humanos e naturais como constituintes do Ser, ou seja, do real em sua totalidade.
10. GRATIDÃO é o reconhecimento sobre o serviço alheio ou valorização do seu esforço, através de
energia contagiante que estimula reforçá-lo ou ampliar o serviço.
10.1.
INGRATIDÃO é ato de
injustiça: desrespeito e falta de responsabilidade com o que lhe foi concedido.
10.2. ENERGIA é, poeticamente, o meio pelo qual os seres se apaixonam, isto é, se afetam: ontologicamente, é o modo íntimo do ser, pelo qual os fenômenos se manifestam para além da linguagem individual; e, epistemologicamente, é a condição de possibilidade de acesso à espiritualidade.
10.3.
ESPÍRITO é a energia
ignorada.
11. HUMANO é o animal capaz de criar necessidades além da vida
prática e disposto a transformar-se ou mudar o ambiente para satisfazê-las: é o modo de ser com aspiração ao aperfeiçoamento espiritual.
12. INTENÇÃO é a motivação para agir.
13. JOGO é o modo de criação pelo qual se possibilita a
interação pelo prazer de aprender, que gera o aprendizado constante.
14. JUSTIÇA é a correção como lição da responsabilidade. Difere da BONDADE, cujo ato é insuficiente para a devida correção; e da VINGANÇA, por cujo ato se excede a correção.
15. KÓNILOS é um pseudônimo grego com pretensões filosóficas de proteção ao anonimato.
16. LIÇÃO é o conteúdo do aprendizado.
17. LINGUAGEM é a condição de possibilidade de expressar
sentimento ou pensamento.
18. MÉRITO é a responsabilização pelos próprios atos.
19. NOTA é a quantificação de uma avaliação que, por justiça, deve corresponder ao mérito.
19.1. AVALIAR, pedagogicamente, é valorizar o processo de ensino, através do aprendizado:
quantificando-os ou qualificando-os.
20. OBSERVAÇÃO é a capacidade intencional para aprender; é a autonomia de busca do aprendizado. Em suma, é a atitude primordial do aprendiz.
21. PACIÊNCIA é o respeito ao tempo alheio, sem a qual não há didática.
22. PROTEÇÃO é a preparação para agir.
23. QUESTÃO é a tradução de uma dúvida numa pergunta.
24. RAZÃO é a condição de possibilidade para a universalização de compreensão do discurso sobre os seres.
25. RESPEITO é o reconhecimento do valor do outro, sem o qual não há confiança.
26. RESPONSABILIDADE é a capacidade de responder demonstrando
cuidado pelo que lhe é, merecidamente, concedido ou conquistado.
26.1. ENSINAR RESPONSABILIDADE é fazer ver que a cada
resposta dada pelo indivíduo cuidador sobre o que lhe foi concedido ou
conquistado decorre o seu aperfeiçoamento e o fortalecimento da relação social
pela qual ele é educado.
27. SERVIÇO é o modo pelo qual uma relação se concretiza, graças a um esforço ou em vista de uma finalidade alcançada.
28. TRABALHO é o serviço por cuja intencionalidade o humano se distingue
dos outros animais.
29. TRADUÇÃO é, pedagogicamente, a transformação de um aprendizado em um modo de
ensino.
30. UNIVERSAL é a
aspiração de compreensão comum entre os seres em qualquer tempo ou lugar.
31. UNIVERSIDADE é o ambiente institucional de aprofundamento do saber em vista
dos fundamentos para uma profissionalização.
32. VALOR é o indicativo do prazer, ou da dor, numa relação.
33. VERDADE é a crença, objetivamente e racionalmente, justificada. É o pressuposto de todo discurso com pretensões educativas.
34. WILLIAM é um nome inglês por cujo jogo de letras pode-se traduzir: “eu sou
desejo” de proteção.
35. XAMIRRANHA é o pseudônimo para um nome ignorado.
36. YUKIKO é a dúvida irônica sobre a responsabilidade: yukiko tenho com
isso?
37. ZÉ NINGUÉM é o pseudônimo de quem não se presta nem pra ter nome.