domingo, 20 de maio de 2012

Do Mérito da Lição

Como disse o filósofo medieval, Agostinho de Hipona, nós falamos para ensinar. E mesmo numa pergunta estamos ensinando ao outro o que não sabemos. Eis a lição agostiniana da linguagem. 
Macaco Pensador contemplando a lua
Disso penso que se nada consigo ensinar com minhas palavras, então prefiro calar-me, seguindo o preceito wittgensteiniano. Afinal, por que desperdiçar minha energia se eu posso aprender observando, em vez de ensinar falando? O pressuposto ainda é a crença de que o outro possa aprender com o meu silêncio, sem desgaste, desde que o silêncio se torne um desafio para o outro, como princípio aristotélico da educação. Pois, que prazer estúpido é falar do que sei a quem nem entende o que digo? Talvez nem ouça o que falo...
Mas, o que ele aprenderia, para além das palavras? Só saberei pelo seu discurso ou pela sua mudança de comportamento. E que mérito teria o meu silêncio na sua aprendizagem, se o esforço foi dele em superar o desafio? Dialeticamente, o mérito é proporcional à capacidade dele em apreender a relação entre minhas palavras e meu silêncio. E parece-me que só sua própria sabedoria seria capaz de valorizar.
Isso me lembra quando fui a um caixa-rápido dentro de um supermercado e estranhei a disposição da fila. A máquina fica ao lado do banheiro da loja. E as duas pessoas da fila seguiam a tendência, que é posicionar-se atrás de quem está sendo atendido. Isso me parece um erro, em serviço bancário, pois provoca a desconfiança sobre a curiosidade de quem está atrás do usuário em atendimento. 
Além disso, observei que com o crescimento da fila os próximos clientes entrariam no banheiro ou ficariam à sua porta, constrangendo os que necessitassem passar por ela. Então, apenas conferi com o último da fila se ele estava para utilizar aquele caixa e me posicionei do lado oposto, de frente para eles e ao lado da máquina, de modo que não tinha acesso à tela nem ao teclado. Mas avisei que eu estava na fila, para testemunharem que o próximo cliente a chegar deveria prosseguir a fila a partir de mim, na direção contrária ao banheiro.
Fila
Interessante é que logo chegou um rapaz e, como é comum, dirigiu-se para trás dos outros. Mas o seu antecedente lhe fez um gesto apontando pra mim, sem falar. Ele, então, perguntou-me, curioso: você está na fila? Eu lhe respondi que sim e justifiquei: ...é que se ficarmos aí, os próximos terão que entrar no banheiro ou constranger quem for entrar. Ao que ele concordou e me seguiu.
Mais interessante é que ele não se conteve e, já configurando a nova fila, anunciou: "Gostei! Acho que ninguém tinha pensado nisso ainda." E eu acrescentei: ...nessa posição não incomodamos ninguém, pois nem há perigo de curiarmos a tela nem o teclado enquanto outro está sendo atendido.
E ele reforçou entusiasmado: "Valeu! Você pensa por si e pelos outros." Ao que lhe respondi: alguém tem que fazer isso. E completei: Valeu! Você pensa e sabe reconhecer o que é o melhor para si e para os outros.

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