terça-feira, 31 de maio de 2011

E Por Falar em Saudade

Curiosamente, a percepção do tamanho do tempo, assim como do espaço, depende sempre do tamanho da própria percepção. Seria isso o que Kant quis nos dizer com seus conceitos de tempo e espaço como formas mentais a priori? Basta lembrar como parecia grande o quintal da casa em que moramos na infância; as praças, as ruas etc. Como parecia distante terminar um ano de estudos, dez anos escolares; depois mais quatro de universidade... e ter filhos? E atingir a idade do meu pai? ...E do meu avô, então!... Lembro-me quando preparei o jardim da minha casa com banquinho onde minha filha deveria namorar e meu pai estranhou... claro, porque ela só tinha dois aninhos. 
Hoje eu me surpreendo em ver a rapidez com que minhas filhas cresceram. Elas já sabem namorar e nem perceberam o banquinho. Ou o perceberam muito bem. Minha Princesa JÁ(?) está cursando universidade, e minha Princesinha prestes a ingressar também. Agora eu já temo a brevidade do tempo em que elas assumirão vida própria... e eu ficarei a desejar netinhos como que para superar a saudade do tempo delas.
Ariadn, quando criancinha, parecia ter muito curto o seu tempo da saudade de mim. Enquanto Ahmina registrou em vinte dias o seu tempo, e eu quase não resisti a tanto, o de Ariadn era tão curto que me fazia sofrer pensando na dor que ela sentia quando eu me ausentava por alguns dias.
A lição me veio quando ela ainda nem tinha dois aninhos e eu precisei viajar em vista da seleção do Mestrado. Foi uma semana de sofrimento, ligando pra casa toda noite, pra saber como ela estava.
Ahmina já tivera sua experiência, portanto, não estava nem aí. Mas, Ariadn estava lá, sim: querendo falar comigo ao telefone; sem ter muito o que dizer, mas me dava a impressão de que ela queria pelo menos ouvir minha voz, sentir a minha presença virtual. E o pior é que ela adoeceu. Felizmente, elas estavam em Natal, com os avós, e cheias de paparicos dos tios (ou seria titiricos e vovoricos?). Por isso eu sabia que estavam bem cuidadas. Ademais, eu nada podia fazer, exceto buscar informações, apesar da tensão das minhas provas.
Então, ao fim de uma semana, voltei pra casa, consolado pela missão cumprida, mas preocupado sobre como eu encontraria minha Princesinha. Para minha triste surpresa, já no portão encontrei meu pai saindo no carro, para o hospital do coração, com minha mãe, vítima de um infarto. E no terraço, deitada numa rede estava minha menininha, dormindo. Assim, eu não poderia ter dela a recepção calorosa que eu esperava. Mas, recepcionado por Ahmina, sua mãe, e os meus irmãos, curiosos em saber como fora minha missão, eis que, ao ouvir minha voz, de súbito Ariadn sentou-se na rede, abaixando a lateral com sua mãozinha e dizendo, num misto de dúvida e alegria em meio ao sono: Painho?!!! Ninguém resistiu à cena surpreendente e todos rimos. Eu apenas peguei suas mãozinhas, desprendendo-as das laterais, e beijei-a na testa, entre os olhos, induzindo-os a se fecharem, e fazendo-a deitar-se novamente. 
Lembro que a tia disse: Pronto! Agora ela não dorme mais... só falava nesse pai; chega adoeceu de saudade! Curiosamente, porém, ela voltou a dormir tão rapidamente quanto se levantou. Dormiu a tarde inteira, como a descansar de uma árdua batalha. E ao se acordar, felizmente, ela já parecia curada.
Daí entendi que saudade pode ser cruel para uma mente despreparada. Parece funcionar como a dor da abstinência que sofrem os viciados. Então, eu precisava fazê-la curar-se, desprender-se de mim, pois eu não poderia funcionar como uma droga, cuja ausência fazia sofrer minha garotinha. Ela precisava aprender que minha ausência não era perda; e a se preparar pois não me teria para sempre.
Parece que funcionou. Consegui curá-la de mim. Tanto que hoje já não sei qual o tempo da sua saudade. Eu já não consigo medi-lo, pois nunca resisto passar mais de trinta dias sem elas, ausente de qualquer contato. Preciso ter notícias; ouvir a voz, vê-las via internet; ler seus textos, suas mensagens, seus pensamentos, mesmo que não tenham se endereçados a mim. Por isso, quando Ahmina viajou para Paris eu lhe pedi para criar um blog de viagem, no qual ela postava suas fotos e notícias quase diariamente.
Apesar de não saber mais qual o tempo de saudade delas, uma vez que eu não consigo deixá-las sentir saudade, contento-me em acreditar que elas conseguiram superar esse tempo. Consolo-me na crença de que isto signifique independência emocional! Quanto à minha saudade... ah! No meu tempo eu dou meu jeito!!!

11 comentários:

claudio castoriadis disse...

ae mestre! o tempo passa mas não te pesa! salve,salve a vida e seus encantos!

Ariadn Solsona disse...

Lindoooooooooo!! Te amo!!

Will Coelho disse...

Valeu, Filha! Que bom que você gostou! Eu te amo!

Will Coelho disse...

Valeu, Castoriclaudio! O tempo e eu tento segui-lo, deixando no passado o peso que excede meus limites...

ahmina disse...

Muito lindo,
sempre me emociono.

Amo-te!
Saudades!
=*

Aryanne Queiroz disse...

Que belo, professor William...Com o pouco tempo de contato, já percebo a imensidão de amor por suas filhas ao falar nelas. Que a Saudade não diminua, nem em tempo nem em espaço, posto que é uma mola propulsora de outros sentimentos bons. Parabéns...!

Will Coelho disse...

Obrigado, Filha! ...E eu sempre me emociono quando emociono você! Eu te amo!

Will Coelho disse...

Muito obrigado, Aryanne! E eu adoro seus comentários! Pois que haja saudade... no tempo e no espaço para tantos sentimentos bons! Valeu, garota!

Aryanne Queiroz disse...

Não há o que agradecer, professor. Aliás, eu que agradeço por compartilhar suas experiências e ensinamentos. Serve-me de reflexão. Obrigada, digo eu! ;)

Goretti disse...

Ah!! o tempo...
Que falar dele...
E da saudade- nossa..
Achei lindo seu posicionamento no tocante a saudade.

Como sempre-bem preciso.
Parabéns a vc.

Will Coelho disse...

Muito obrigado, garota, pela sua gentileza! Que bom vê-la por aqui!