quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O Porta-jóia da Amizade

 Duas meninas conversavam empolgadíssimas. Não falavam sobre amizade, mas se consideravam muito amigas. Porém, como sempre, uma parecia ter muito mais entusiasmo em falar do que a outra em ouvir. O tema era joias e bugigangas. Então, certamente falava mais aquela que tinha mais o que dizer sobre joias, porque, possivelmente, as tinha em maior quantidade. A outra, por sua vez, parecia sentir mais prazer em ouvir, meio encantada com tanta beleza em exposição pela boca da sua amiga; embora, por vezes, parecesse também querer falar um pouco do pouco que tinha em bugigangas que ela mesma confeccionava, mesmo que fosse apenas para desfila-las em reverência à joalharia daquela.
De repente, a mais ouvinte perguntou para a mais falante onde ela guardava suas joias. Ao que ela respondeu: – No meu quarto.
Sim, mas em quê?
Num porta-joias que minha mãe comprou.
Aí a amiga achou o filão sobre o qual tinha mais o que falar, pois havia produzido ela mesma a sua própria caixinha de joias: bela, prática e econômica. Então a esbanjou compensatoriamente quer pela beleza, quer pela praticidade, quer pela economia e até pela autoridade de artesã. Parecia simplesmente a sua joia rara feita para guardar bugigangas.

Impressionada, a outra quis comprar-lhe a peça, argumentando sê-la mais adequada para guardar preciosidades do que quinquilharias. Ao que a amiga retrucou: – Obrigada pelo interesse! Mas acho que você precisa aprender a valorizar mais o que não tem preço!
Observei, pois, que enquanto a menina ouvinte tratava a amiga falante como se fosse a sua própria caixinha de joias, peça construída com muito esforço, na qual ela tentava repousar seus tristes segredos, talvez até apenas para não a deixar vazia, a amiga falante, por sua vez, via a amiga ouvinte igualmente ao seu porta-joias, na verdade uma bugiganga pelo que fora pago um preço: útil! Porém, como mera vitrine para exibir suas posses.
Então fiquei pensando: será que a amizade é assim como uma caixinha de joias: pronta para guardar e expor os penduricalhos que apenas passam por ela, mesmo quando eles se acham mais valiosos que ela, tendo-a como uma bugiaria? O que é amizade, afinal?

4 comentários:

Anônimo disse...

"– Obrigada pelo interesse! Mas acho que você precisa aprender a valorizar mais o que não tem preço!", lembrou-me a conversa entre o Pequeno Príncipe e a raposa: - Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste.../ - Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda/ - Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?/ - É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa criar laços...

Will disse...

Obrigado pelo comentário inteligente! Adorei a referência ao Pequeno Príncipe! É bom fazer-lhe lembrar de tão grande obra! Quiçá, haja alguma influência, como de tantas outras leituras... Sua observação deve provocar em outros tantos a releitura dela. Parabéns!

janilce disse...

tudo que voce fala,escreve eu admiro e acho lindissimo, tu é demais. te adoro. O que escreveu sobre minhas meninas, é tudo que qualquer pai e mãe quer dizer de seus filhos.

janilce disse...

A amizade para mim não tem preço, quando valorizamos mesmo distante. E quando sabemos ser amigos, respeitamos o limite do outro.E quero sempre regar essa nossa amizade com águas do amor,respeito,carinho e dignidade e tudo de bom.