quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O Preço da Música na Mídia

Hoje eu li uma nota na coluna televisão.uol e me lembrei dos versos do Belchior: "Já faz tempo eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida. Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais..." (Como Nossos Pais). Embora o poeta esteja falando do tempo em que a juventude foi reprimida, vale observar que naquele tempo, "quando havia galos, noites e quintais", a Música brasileira e a mídia ainda se encontravam a gosto, não a preço. Quero dizer: a mídia apresentava ao público, com certo gosto, a produção musical de gosto certo, mesmo que fosse às vezes para literalmente "quebrar o disco à cara do artista", como Flávio Cavalcanti fez com o lendário Raul Seixas.
Naquela época certamente os programas de rádio e tv faziam questão de convidar bons artistas, porque tal aparição rendia-lhes alto índice de audiência, tanto à mídia quanto ao artista.
Assim, a mídia alimentou a arte com a fama; pela qual cresceu a quantidade de artistas. E a arte alimentou a mídia com audiência, pela qual cresceu o poder da mídia.
Infelizmente, essa disparidade de crescimento não implicou em melhor qualidade de nenhuma das atividades, porque o alimento continua o mesmo, guiando a arte pelo supérfluo e a mídia pelo dinheiro.
Aquilo que desconfiávamos há tempos agora se vislumbra na nota do Flávio Ricco:
"Jabá oficial
Está cada vez mais complicada a situação da música em várias emissoras de rádio e TV. Se pagar, toca. Caso contrário, esquece. É assim que funciona e até com alguma organização.
Um dos programas mais conhecidos, gerado de São Paulo, cobra R$ 45 mil para duas apresentações. Este valor é dividido ao meio, porque a televisão também leva a parte dela. Detalhe: com nota fiscal.
Ninguém admite ou fala escancaradamente sobre o assunto, mas como se vê não tem sonegação. Legal, mas imoral.
Caso diferente
Outro programa semanal, na mesma televisão, cobra bem menos. Apenas R$ 20 mil, também por duas músicas, porém, neste caso, a emissora não tem participação. Tudo feito por debaixo do pano.
O dinheiro é dividido em sua maior parte entre o diretor e o apresentador, além da comissão de praxe ao intermediário.
Prática antiga
Mas isso não chega a ser nenhuma novidade. No rádio, principalmente em emissoras dos grandes centros, esta é uma prática de muito tempo. Os preços em São Paulo variam de R$ 10 mil a R$ 30 mil, conforme a colocação no Ibope. Também com nota fiscal."
Fonte: http://televisao.uol.com.br/colunas/flavio-ricco/2010/11/10/globo-nao-tera-novamente-ivete-sangalo-no-seu-fim-de-ano.jhtm#jaba
Infelizmente, consiste apenas numa nota de opinião, uma vez que o autor não identifica os agentes envolvidos: quem pagou quanto para se apresentar em quais programas de tv e de rádio e quem cobrou por tal serviço. Por falta dessa informação, portanto, o dito "jornalista" ou colunista, infelizmente, não permite ainda confirmar a nossa desconfiança antiga de que a música no Brasil atende não só às exigências do mercado fonográfico, mas também paga um preço à mídia, regida pela velha máxima do "time is money", cuja fórmula é: tempo escasso + grande demanda = preço alto. 
E o pior: em última instância, quem paga a conta ainda é a cultura brasileira, debitada por esses ditos "fazedores de opinião". Afinal, nas mãos de quem está nossa cultura musical e midiática? Que identidade cultural podemos formar da nossa sociedade, com tal incentivo à produção e tal imposição ao consumo?
Vale, portanto, cantar com o poeta de Grossos/RN, Genildo Costa, os versos de Gonzaga de Areia:
"Por quanto tempo a gente vai ficar aqui, parado? Por quanto tempo?!
Por quanto tempo a gente vai se encontrar nas ruas, nos bares...?
Milhões de seres que o palco desconhece
Milhares de criaturas pelas ruas do País, perdidas no anonimato
Acreditar, cristalizar o sonho e a fantasia
Reinventar o som e tudo o mais que contagia
Pelo prazer de cantar coisas da alma da gente
O belo, o inconsequente
Sob esse céu cor de anil
A vida não é só tua voz gravada numa lâmina de vinil" (Anonimato)

3 comentários:

ahmina disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ahmina disse...

Que legal, painho
Hj, quando estava no bar brasileiro, lembrei do senhor.
O ambiente muito bom e o forró da melhor qualidade...
E afeioada então? Hummmm

Perfeito.
E aí, voltando ao que o senhor comentou nesta postagem: um ambiente de música boa, cultural e não comercial. Um problema foi que quando começaram a chegar mais brasileiros, de vez em quando uma música ruim era tocada.
=/

Era o público, né?!

Will Coelho disse...

É, Filha! Esse é o tipo de programa que deve ser feito só para matar saudade ou para conhecer o que brasileiros tocam fora do Brasil. Ou saber o que estrangeiros gostam do Brasil. Pois, a rigor, o melhor é aproveitar para conhecer a cultura estrangeira.